segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Finitude

Estamos todos condenados a ela. Somos, infelizmente, limitados por milhões de fatores alheios à nossa vontade. Alguns exageram na dose e são limitados por outra centena de fatores condicionados à própria vontade, mas deixemos este papo para outra ocasião.

Sendo todos nós parte de um processo, caminhamos para o desfecho. Processos se encerram, para o bem e para o mal. Um bom amigo repete para mim, quase em todas as vezes que nos encontramos: "relaxa, Célio... No longo prazo estaremos todos mortos."

Contra a lógica, não há argumentos. Defendo apenas que a trajetória de um processo define uma vida. Algumas são tão plenas que parecem durar além do limite que entendemos. Outras tão rasas que parecem ter chegado ao fim antes do fim daquela trajetória.

É isso mesmo. Em algumas circunstâncias, até a morte pode morrer. Acontece, por exemplo, quando uma vida se extingue e o corpo recusa esta verdade, vagando por aí como se fosse animado por algo diferente, porém quase igual, ao que teríamos de alma e espírito. Quando aquele corpo morre, é uma segunda vez.

Nossa finitude não deve ter vindo por acaso ou por crueldade. Imagino que deva ter sido incorporada a nós, para aplainar a soberba natural da espécie que julga ser dominante sobre o planeta. Em suma, para que aprendamos a humildade, a tolerância, a voz da razão e a microscópica importância que temos para o planeta.

O espaço do blog é muito informal para falarmos sobre Nietzche e Kant. Falemos sobre Célio Lima mesmo: a teoria das seis jacas vale para os magistrados, para mim, para todos os homens de bem e de mal.

Assim também a finitude. Passaremos, como meteoro ou como urubu, por este mundo. A semelhança estará no voo. As diferenças, brutais, começam pelo fato de que o urubu sempre deixa matéria orgânica cair sobre alguma cabeça. O meteoro se contenta em deixar luz.

Ambos se findarão, entretanto, porque são parte de processos. E ambos serão essenciais à sua maneira. O meteoro por nos ligar a outros mundos. O urubu por nos livrar dos imundos. Qual seria mais importante?

Nenhum deles. O que é finito não tem importância, depois que acaba. Mesmo que acredite, fervorosamente, que dá para se tornar imortal pela lembrança pura e simples. Se assim for, basta aparecer. Ou parecer, neste mundo de natureza tão finita.

Agenda Oculta? Ninguém é tão importante que vá viver depois de acabar, se não provocar uma mudança radical na própria vida limitada. Será como o urubu. Capaz de voar, mas capaz de fazer merda enquanto voa. E incapaz, totalmente, de gerar qualquer luz em sua volta.

(um erro de digitação corrigido pelo autor)

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