Se algum de meus leitores duvida do menu escasso de nossa política, por favor me encaminhe provas de que meu raciocício está caminhando na direção errada. Eu janais me recuso a aprender algo novo, se os dogmas antigos já não atendem ao quesito da credibilidade.
Nossas políticas, e por extensão nossos homens políticos, vivem em ambientes de escasso menu de opções de trabalho. Senão vejamos, historicamente: o primeiro grande momento político (a estreia em vida pública) é sempre maniqueísta. Somos nós ou eles, o Bem e o Mal. Acabou-se.
Conversando com o Marcos Martino, expus minha opinião sobre a Zona Cinzenta (não se trata de propaganda de bordel), uma área em que o Bem, O Mal, o Nós e o Eles se confundem e se juntam, num plasma diáfano. Nesta Zona Cinzenta, convicção que sobrevive é uma só: o Bem sobrevive quando pratico o Bem. O Mal sobrevive quando pratico o Mal. O Bem sobrevive quando o meu adversário pratica o Bem. O Mal sobrevive quando o meu adversário pratica o Mal.
Eu e meu opositor temos talento para Bem e Mal, e os praticamos em sequência alternada, todos os dias. O que acaba por nos diferenciar é a frequencia entre um cardápio e outro.
Algumas pessoas se utilizam do Bem como se fosse arroz e feijão, outros como se fosse caviar com champanhe. E vice-versa. Não importa o campo das ideias que defendam. A pergunta que não quer calar: O arroz e feijão, o caviar e o champanhe, mudam, dependendo de quem os consome?
A resposta que amedronta, mas que também impede o desespero e a derrota: não.
Em políticas de menu escasso, consumir o arroz e o feijão de cada dia, com os olhos voltados para o Bem - não importando quem os tenha plantado - faz toda a diferença entre sermos homens e sermos bestas-feras.
E consumir o champanhe com caviar - igualmente - nos faz provar outros sabores. Sem raiva, sem mágoas, sem arrependimentos vazios. Porque somos Bem e Mal, arroz e champanhe. Somos cinzentos.
Ufa!!! Vamos ao segundo grande momento político. A união de projetos comuns. É onde a esmagadora maioria dos jovens políticos se perde, até que aprenda a apurar os paladares.
Política de Projetos é construída sobre três pilares: superior, estratégico e funcional. Os oriundos da Administração vão se ambientar rapidamente com os conceitos.
Em nível superior, um jovem político não deve se cercar de mais do que três ou quatro conselheiros. Todos deverão sofrer perdas severas, caso o assessorado venha a sofrer uma derrota severa. Se não há o atendimento a esta premissa, melhor deixar o pilar superior vazio, até que surja um candidato digno de ocupá-lo. Fica menos ruim deste jeito. O jovem político deve sempre se lembrar de que não existe carreira conjunta, a fogueira só existe para um. A glória, igualmente.
Em nível estratégico, o número de conselheiros deve ser ampliado ao máximo possível, respeitada a razão 3 estrategistas x 1 superior. Isto porque 3 estrategistas podem votar entre si, definindo se a teoria superior será válida e aplicável ou não. O número ímpar impede o empate e, por conseguinte, a dúvida que manteria o jovem político em cima do muro. Governados adoram esta posição, porque assim podem alvejá-lo de qualquer ponto em que estejam.
Em nível funcional, os aliados devem existir no maior número possível. A força de um exército é dada, também, por quão numerosos sejam seus soldados.
E chegamos ao terceiro grande momento político, quando o menu é escasso. Se em qualquer nível não há aliados incondicionais para o dia a dia, tudo o que será produzido se resume a sucesso tisnado por levantes de traição individual ou coletiva (voluntária, involuntária ou simplesmente movida a idiotice) ou fracassos iluminados por holofotes (voluntários, involuntários ou movidos a simples idiotice).
Somente após vencidos estes três momentos o político estará pronto a navegar em águas menos revoltas, e a conviver com menus mais generosos. Somente a partir daí poderá advir algum sucesso concreto para quem se lançou à vida pública. E somente a partir daí poderá haver compartilhamento de caminhadas, baseado em méritos e bom trabalho executados ao longo do processo.
Definir os nomes que comporão estes três pilares separa o estadista do "politiquinho", aquele que só aguarda a vinda da poeira do tempo para ser soterrado e esquecido ou, o que é muito pior, mal lembrado.
Não é meu intento colocar aqui a teoria por completo. O espaço não se destina a tanto e eu não trabalho a custo de amendoins, como os símios de picadeiro. Mas debruçar-se com afinco e método sobre as bases fará a tese saltar aos olhos do estudioso autodidata. Fica o convite...
Agenda Oculta? Quando somente um tem tudo a perder, é aquele único que não pode errar, e é o único que dedica tudo de si ao acerto. O resto á bajulação barata. A palavra final só pode ter um timbre de voz.