Prezado Vereador Belmar Diniz,
Receba, primeiramente, meus cumprimentos pela vida pública que o senhor abraçou. É coroada de trabalho pesado, mitos, cobranças, incompreensões e ingratidão. Como nós, mesmos, seres humanos, o somos. Por isso, somente pessoas de valor a abraçam com dedicação de corpo e alma.
Por não nos conhecermos pessoalmente, tomo a liberdade de falar sem o conhecimento pleno de suas causas. Portanto, posso estar errado em minhas observações atuais. Estou, claro, aberto à sugestões e correções.
Em primeiro lugar, observo sua atuação na Câmara Municipal com certo receio de que o senhor não tenha abraçado uma causa partidária, com o mesmo entusiasmo com que abraçou uma causa política. Pode até ser natural, visto que nossos partidos políticos tendem a se diluir na sombra de seus integrantes mais ilustres. Mas não é correto.
O partido político nada mais deveria ser que a comunhão de ideais e projetos comuns, direcionados por pessoas que podem, sim, discordar dos meios, mas nunca deixar de defender os fins. É da soma de ideais e trabalho árduo que se constroem grandes projetos de evolução social.
Durante os últimos meses, pude observar que, da tribuna da casa Legislativa, o senhor critica rumos tomados pela coalisão partidária que o elegeu. É um direito que lhe assiste enquanto cidadão, mas penso que não lhe pertence enquanto cidadão político e homem de partido.
O nome "partido" vem do fato de não ser uno, significando que há diferentes visões e frações na vida política como um todo. Se não fossem partidos, seriam unanimidades provavelmente déspotas. Da divisão nasce o conhecimento bilateral, e dois sempre são melhores que um só. Três são melhores que um e dois, e assim sucessivamente.
Dessa sua atuação, às vezes, chega a transparecer a ideia de que sua eleição deveu-se não a um projeto partidário conjunto, mas a uma vitória unicamente pessoal. Como o senhor - bem como nenhum outro candidato - atingiu os cerca de 4000 votos necessários para obter uma vitória unicamente pessoal, observamos que minhas afirmações anteriores fazem sentido. O senhor é um homem de partido, mesmo tendo projeto político próprio (e de direito seu).
O seu partido político é icônico para o país. Para o bem ou para o mal, tudo o que o Brasil hoje é deve-se, também, à existência e empenho do Partido dos Trabalhadores. Não atue como se fosse alheio a esta grande história. Não critique seus iguais. Para isso existe o que chamamos oposição. O outro lado, a outra fração do universo da política.
Observe o grupo que foi hegemônico neste município por oito longos anos. A cidade mergulhou num atoleiro e levará pelo menos mais oito longos anos para sair, mas não há críticas entre os integrantes da banda de lá. Eles se protegem, são iguais. Ainda que eu não tenha o valor moral para aconselhá-lo, nem a sabedoria necessária, seu partido político - e o grupo a que se uniu no momento - possui essas fortalezas. Não citarei nomes para não cometer injustiças.
Uma coisa é certa: nenhum de seus iguais ofendeu sua honra, nem sua dignidade, nem seu caráter. Um dos outros, sim. Faz parte do jogo, como sabemos. Mas deve servir como um farol: os outros são os outros, e só. Na primeira oportunidade quebrarão suas pernas, porque isso também faz parte do jogo.
Não digo que seja necessário ao senhor quebrar algumas pernas adversárias, por aí. Não é. É possível que o jogo político seja jogado de forma limpa, assim que algum gênio descobrir uma forma de fazer isso. Minha ignorância me priva deste privilégio, infelizmente, e neste campo não poderei ajudá-lo. Não quebre as pernas, mas amarre-as, aos braços, e amordace como puder os adversários. Chiarão, é certo, mas fazem isso o tempo inteiro. Compreenderão as táticas e métodos, mesmo vociferando que isso é política rasteira.
A sua inteligência e capacidade deverão servir de seu lume e bússola. Não com seus opositores, porque não há direção favorável nesta hipótese. Só insultos e ataques e abandonos.
Com seus iguais, eis o caminho. Porque os iguais, ao contrário dos apenas juntos, jamais deixam um ferido para trás. Muito menos ferem para, só após, largarem o ferido para trás.
Solicito sua compreensão para com minha petulância. Realmente não compartilho sua experiência de vida, mas já me coloco à disposição. Seu sobrenome está ligado ao maior político que esta cidade já teve, em grandeza de princípios. Seria lógico aguardar do senhor uma trajetória tão grandiosa quanto. Mas talvez os caminhos devam ser trilhados com muito cuidado e cautela. Os adversários, agora, são outros.
E não são nobres.
Um abraço fraterno.
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