sexta-feira, 2 de abril de 2010

Jornalismo e cidadania


Este binômio tem funcionado em João Monlevade? Um primeiro alerta deve ser feito: é pauta para o Brasil inteiro e, talvez, para o mundo inteiro. Mas quem somos nós para tentar abarcar o Brasil e o mundo, sem primeiro tentar entender o nosso próprio microuniverso?

O ponto inicial da análise passa por duas constatações de autoria do jornalista Marcelo Melo: a ausência de repórteres qualificados e a mercancia escandalosa de espaços de opinião, em nossas mídias de jornalismo.

Estes dois aspectos fundamentais, como ponto de partida, já delineiam a impossibilidade de que nossa cidadania venha a ser incrementada pela simples ação do jornalismo local. Não há demérito algum nessa característica, porque mundialmente não se exige de ninguém uma ação concreta, quando não há uma responsabilidade concreta na ocorrência do fenômeno noticiado.

Exemplo: se existe uma Darfur, não se exige que os repórteres por lá ajam como heróis da humanidade. Parte-se do pressuposto de que o mundo precisa tomar conhecimento dela, para depois tomar ações afirmativas de correção. Esta é a essência do jornalismo, desde sua consolidação como ferramenta da democracia.

"Visum et repertum" é um mote profissional na Polícia Técnica. Significa ver e repetir, de modo que outras pessoas possam tomar conhecimento do que se viu, objetivamente. Ele se aplica, em parte, ao jornalismo de informação.

Um dos problemas mundiais na concepção do que seja o jornalismo se refere à subjetividade dos olhos e das análises. Todo profissional da área é inteligente o bastante para entender um axioma clássico: não se pune o mensageiro apenas porque o conteúdo da mensagem é ruim.

Mas persiste uma dúvida atroz: o que fazer com o conteúdo da mensagem, se o conteúdo do mensageiro é ruim, ou questionável? Não existe um axioma que diga: "não se aproveita a mensagem se o conteúdo do mensageiro é ruim..."

Esta questão não é pontual para Monlevade, diga-se, a fim de preservar os envolvidos localmente de interpretações errôneas e precipitações opinativas. Mas há perguntas capitulares a ser feitas e respondidas, pelo bem de nossa sociedade.

Uma delas: a falácia pode ser utilizada no tempero das notícias e informações? O exemplo clássico: vende mais porque está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho porque vende mais? Isto é relevante para a sociedade ou é relevante para o empreendedorismo dos proprietários de veículos de comunicação? E quem pode deter o discernimento para responder a esta questão fundamental?

Outra pergunta: Informação é poder, mas informação desconectada de uma realidade provável é que tipo de poder?

A terceira, a mais importante de todas: existe obra humana livre de impurezas lógicas, racionais ou sentimentais?

Sem responder a todas estas perguntas, é legítimo falarmos em um binômio em que o jornalismo seja parte inquestionável da democracia?

Tomemos cuidado em não confundir o jornalismo com a atividade jornalística. Para clarear ainda mais, entendo o jornalismo como algo além de noticialismo. Neste aspecto, creio que não há reparos a fazer na atuação dos meios jornalísticos em João Monlevade. Noticiar é pressuposto da atividade. O "como noticiar" é que vem trazendo desafios à minha análise fria dos eventos.

Mais uma vez, citemos o óbvio: minha ignorância sobre a matéria é a resposta mais natural a este questionamento. É que, às vezes, a resposta mais natural pode não ser a mais correta.

Por isso, a busca de uma resposta satisfatória não pode parar, para mim. Entendo que a cidadania não se constrói sem a participação das mídias de conteúdo jornalístico, mas ainda tenho sérias dúvidas sobre a cidadania não poder acontecer ao largo do jornalismo clássico.

O Drops é um espaço muito pequeno para sequer iniciar uma pesquisa deste vulto. Mas, aos poucos, espero atrair interlocutores qualificados para clarear esta visão. Sem ela, o futuro de uma sociedade tende a ser sempre mais sombrio do que o necessário.

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