quinta-feira, 20 de maio de 2010

7 e meia da madruga e a vaga é minha!

Observa-se que Thiago Moreira resolveu abordar uma possível consulta da Administração Municipal aos blogueiros locais, para encontrar sugestões que eventualmente culminem em melhoria do sistema de fluxo viário em João Monlevade.

Guiado por suas convicções pessoais e possivelmente pela sua carteira de trabalho assinada, Thiago cometeu pelo menos uma indelicadeza: comigo, que trabalho com trânsito há 15 anos. Para simplificar, José Jaime, que eu reputo como pessoa que domina os fundamentos da matéria com propriedade, consultou-me no ano passado para que trabalhássemos em conjunto, em uma ação judicial de nossa Comarca que envolvia... adivinhem? Trânsito!!!

Eu sou um chato de galocha na vida de Thiago, e sei disso. Mas o que fazer, se ele comete seus deslizes quando fica sem controle externo por muito tempo? Ajudá-lo, ué...

Primeiro, lembrando-o de que blogueiro não é profissão, é quando muito um hobby. Ele é jornalista de profissão, eu sou Perito Criminal de profissão, Zé Henriques e Werton são profissionais de TI, Fernando Garcia advogado, e por aí vai...

Segundo, lembrando que algumas profissões seguem junto com os blogueiros, caso contrário teríamos que reconhecer que Thiago deixou de ser jornalista quando resolveu editar um Blog. E isso, evidentemente, não pode ter ocorrido.

Então, partindo do pressuposto de que Thiago também faz análise prática da realidade, raciocinemos: se às 7 e meia da manhã - com o comércio ainda fechado - o hipercentro fica cheio de veículos estacionados, isso não representa mais um problema de trânsito. Representa um problema de falta de espaços urbanos, comum a muitas cidades brasileiras, já que ultimamente a venda de veículos e de motocicletas explodiu no país todo.

Tanto que, como forma de enfrentar a crise financeira mundial, o governo brasileiro isentou de IPI a venda de ambos. Acertadamente, esta ação minimizou o impacto da crise na economia nacional.

Bom, impedir que qualquer pessoa estacione seu veículo onde der na telha é uma atitude corajosa e correta, do ponto de vista técnico. Quanto mais espaço de via pública é liberado, mais o tráfego de veículos flui. Mas esta atitude é também, politicamente, antipática. E o homem público brasileiro evita tomar atitudes antipáticas. Na semana que vem darei um exemplo bombástico de como essa mecânica funciona...

Em paralelo, não é o deslocamento por si só que causa o trauma social do trânsito urbano. Pessoas não andam de um lado para outro o tempo inteiro, feito baratas tontas; elas realizam pequenas ou grandes paradas. Este é um calcanhar de Aquiles terrível para se corrigir.

Daí que resolver o problema de trânsito em João Monlevade é uma grossa utopia. Seria tão simples como resolver os problemas de trânsito do Brasil. Mas é possível retornar nosso tráfego de veículos a algo menos desgastante para todos, se alguns folgados forem penalizados um pouco mais.

Nesta hora Thiago dá um pulo sobre o teclado: "- Eu sabia! Vão querer colocar a culpa nos motoristas!!!"

Sim. Os motoristas também são responsáveis. Mas a responsabilidade maior reside em reconhecer que o trânsito caótico é fruto de nenhum planejamento urbano n-a-c-i-o-n-a-l, e falta de planejamento estratégico resulta em improvisos. Daí porque a Linha Azul, embora conceitualmente correta, não tenha funcionado com a eficácia que todos esperavam dela.

E não funcionou porque não foram adotadas medidas impopulares, como limitar as áreas de estacionamento público, os horários de tráfego de veículos pesados em carga e descarga, a majoração da passagem de ônibus coletivo para adoção dos microônibus no hipercentro comercial, e algumas outras medidas que não cabe mencionar aqui e agora.

Daí que consultar observadores externos pode ser uma medida extremamente perspicaz. Dividir a responsabilidade com os poucos que possuem o discernimento para conhecer a limitação política de algumas atitudes, pode minimizar a antipatia que estas medidas, se adotadas, fatalmente produziriam numa população que já é penalizada por outros fatores e demandas públicas.

Quantos em João Monlevade estão dispostos a entender que o bem público não pode servir a interesse individual? 50 % da população?

Pessoalmente, não creio que a consulta a blogueiros seja ruim porque os blogueiros sejam estúpidos ou incapazes de entender a realidade circundante. Muito pelo contrário. Mas creio que é ruim porque os blogueiros darão mais do mesmo, ou seja: receitas eficazes, mas amargas na sua aplicação. Às vezes, por motivos diversos e insondáveis, o enfermo prefere a doença ao remédio.

Claro que posso estar enganado. E que alguma outra pessoa possa já ter identificado soluções que garantam vaga pra todo mundo, o dia inteiro e com trânsito fluindo que é uma beleza. Mas aposto uns dez lotes na lua, que estou vendendo baratinho, como muita gente que sabe reclamar ainda não sabe sequer identificar a correta gênese deste problema.

Uma observação final: se a Administração atual quiser correr o risco da rejeição, por parte dos insensatos, o trânsito leva menos de dois meses para fluir como rio morro abaixo. Mas a um custo político bem alto. Melhor fazer como muitos grupos por aí e deixar para um outro a tarefa de corrigir lambanças e de dar más notícias...

2 comentários:

Wir Caetano disse...

Realmente, tremenda bobagem a reação do Thiago. Você está certo: blogueiro não é profissão. Qualquer um pode blogar. Quanto ao trânsito, é claro que é meio como futebol: todo mundo acha que entende. Mas há, sim, pessoas com reflexões eficazes. Correto você dizer que certas questões não são de trânsito, mas de planejamento urbano, coisa que eu já falei há muito tempo, num texto chamado "O Mensalão do Centrinho". E bom o toque sobre os microônibus, coisa que também já falei há algum tempo a amigos. Mas aqui não vejo ninguém discutir transporte público; só preco de passagem.

Marcelinho disse...

Caro Amigo Célio,
o trânsito nosso de cada dia, aqui e acolá está em colapso há muito.
Este colapso possui várias etiologias, e o tratamento passa por várias reflexões que você citou e outras mais.
Para sair deste colapso temos que ter a sensatez de procurar sugestões e resoluções diferentemente do processo que causou tal colapso. Não adiantára bater na tecla que tem que ser feito outra avenida ou rua, mudar isto ou aquilo sem que haja, inicialmente conscientização e participação do POVO.
Respondendo a uma questão sua: "Quantos em João Monlevade estão dispostos a entender que o bem público não pode servir a interesse individual? 50 % da população?"
Sinceramente, se tivermos 50% da população a entender a serventia do bem público, já teríamos uma sociedade bem mais estável, fluente.
Quanto à sua importante fala: "Pessoalmente, não creio que a consulta a blogueiros seja ruim porque os blogueiros sejam estúpidos ou incapazes de entender a realidade circundante. Muito pelo contrário. Mas creio que é ruim porque os blogueiros darão mais do mesmo, ou seja: receitas eficazes, mas amargas na sua aplicação. Às vezes, por motivos diversos e insondáveis, o enfermo prefere a doença ao remédio."
Quando de minha apresentação na audiência pública no ano passado para apresentar algumas sugestões ao caótico trânsito do centro de J. Monlevade, eu frisei que tem-se que dar remédio amargo para tratar efetivamente os problemas.
Está no meu blog, no link: http://bocaonopulpito.wordpress.com/2010/04/21/repostando-para-repensarmos/
e
http://bocaonopulpito.wordpress.com/2010/04/21/repostando-ii-para-repensarmos/.
Acertandamente, seu texto deste POST fará aparecer alguns (talvez não cheguemos a 50%) que qeiram ajudar, cooperar na melhoria da qualidade de vida, no desenvolvimento sustetável de nossa cidade, ainda agora onde a ArcelorMittal está expandindo.
Quanto às minhas sugestões, fi-las, mas deixo bem claro que não sou TÉCNICO no assunto, mas sou bastante competente para analisar, estudar, entender e propor algo.
Parabéns!
Se o Gustavo Prandini me convocar como blogueiro, honrosamente comparecerei para tentar ajudar, e irei não somente como blogueiro (me honro muito de sê-lo), mas como cidadão e filho desta terra.
Abraços.