domingo, 9 de maio de 2010

A ciência política privilegia os partidos


E por este motivo existem democracias sólidas funcionando no mundo inteiro. No Brasil, infelizmente, este amadurecimento não ocorreu. O partido político brasileiro nada mais representa que uma marina de aluguel, onde alguns barcos vem e vão ao sabor de suas necessidades instantâneas, e outros são donos do espaço que se aluga para barcos de interesse.

Nós somos um povo ignorante, e não há dúvidas com relação a isso. Não precisamos nos envergonhar, já que nossa história ainda está nas fraldas. Quinhentos anos de existência não nos ensinaram um caminho de progresso construído ombro a ombro. Mas não há motivos para comemoração. Nações pouco mais velhas já atingiram um estágio de solidez institucional que ainda nos escapa ao raciocínio lógico.

Nossa política se ressente desta condição ingrata. Temos partidos demais, desimportantes demais em sua azáfama mesquinha de trabalho de formigas, à cata de migalhas do banquete que se desenrola em esferas mais afortunadas. Há poucos que se destacam neste cenário desabonador, no país inteiro. Eu destacaria alguns, se não fosse deselegante a possibilidade de me esquecer de outros nomes bem merecedores de aplauso.

No Brasil, o cidadão interessado em participar de discussões sérias e bem intencionadas visando o bem comum se vê perdido. Não encontra uma única agremiação partidária que se ocupe mais da política que da distribuição de cargos e benesses, e portanto não encontra um partido ao qual valha, realmente a pena, se filiar e trabalhar.

Não há a preocupação de se firmar um partido político para dele filtrar bons nomes. O que existe é um bom nome ao qual se atrela um partido qualquer (e olhem que este bom nome pode não ser o nome ideal) à cata de "oportunidades".

Assim, é incomum que haja um projeto político-partidário não contaminado pela ganância individual, não obscurecido pela intransigência de um cacique ou não invalidado pela ausência da assembléia plena entre seus integrantes.

O resultado é que nossa política é de homens, não de projetos. E assimilamos com gosto esta aberração. Porque, ao coletarmos um nome em evidência negativa, tratamos de juntar a ele o seu partido, como se fossem metonímias possíveis. Não é um Serra, um Aécio, uma Dilma, uma Marina, um Kassab, um Lula, um Simon.

É o PT, o PMDB, o PV, o PSDB, o DEM ou, como diz Marcelo Melo de forma brilhante, o demo e o PQP. Tratamos todos de julgar todo um partido por um único nome de evidência, como se aquele nome traduzisse o pensamento de todos os integrantes de um partido político. E as diferenças, saudáveis na democracia, para onde vão?

Esta dicotomia faz que ótimos nomes se esgotem em quadros partidários enfraquecidos, onde as ideias são como o tapete da sala. Ninguém repara, a menos que esteja esburacado ou sujo demais. Os projetos não são discutidos plenamente. Os objetivos não são delimitados ou, quando o são, transformam-se na calada da noite sem que os elaboradores tenham ciência desta mutação perversa.

Resta continuar trabalhando, de forma quase insana, para que hajam partidos sustentando os bons projetos políticos, e não projetos individuais se sustentando de partidos bons. Os nomes vão, os projetos e ideais ficam. Lembremo-nos disso.

Esta semana que passou foi dura para o Partido Verde em João Monlevade. Com a saída de seu vice-presidente Werton Santos, o qual tem a minha admiração e o meu respeito totais, vejo configurar-se mais uma vez a situação de que não haverá um partido sustentando um projeto político para Monlevade. Acende-se uma luz não verde, mas vermelha, no horizonte próximo.

Que haja muita serenidade nesta hora e nas horas que virão. Monlevade precisa de bons nomes e de bons projetos, sempre. Mas precisa de partidos políticos sólidos, também. A ausência deles, nos últimos anos, freou nossa caminhada em muitas décadas.


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