quinta-feira, 15 de julho de 2010

A coisificação da política local


Espero que os leitores tenham percebido: deixei de realizar qualquer ilação sobre cenário político em João Monlevade. Simplesmente porque não há cenário político a observar. O que a cidade obteve, ao longo dos últimos cinco anos em que posso me lembrar fisicamente, foi a redução de atores sociais importantes à reles condição de coisas.

Nenhum discurso é capaz de comover, quando proferido por uma mente coisificada. Não há projetos de estruturação de uma realidade social justa, por parte de ninguém. Mas há discursos coisificados indicando, com trombetas de triunfo puro, esta realidade imaginada.

Na condição de coisas, nossos agentes públicos encontram-se num palco onde quase tudo está perfeito: a ribalta, as luzes, o som direto, a iluminação, os camarins confortáveis... mas falta amor à arte. Falta o principal.

Sobram os torpedos bilaterais, porque uma trupe não pode deixar de apontar que a coisificação da outra companhia teatral foi mais severa, mais doída, mais contundente. Gargalha-se ao máximo pelas feridas alheias, pelas veias abertas à navalha, pelo sangue que jorra mas não causa a morte imediata. Espera-se a morte lenta do "inimigo" pelo choque hipovolêmico, com a expectativa mesquinha de poder sapatear sobre o corpo agonizante da coisa "contrária".

E quase ninguém percebe que esta morte está vindo para todos, mas que irá atingir também a alguns raros espectadores, os que ainda mantiveram o estômago intelectual minimamente operante.

Na condição de coisa, mesmo este espaço perde todo o sentido. É lamentável que haja tanto ruído por nada, ao redor de umbigos cada vez mais sedentos de holofote. Renuncio agora, de plano e raso, a qualquer raio de pouca luz que meu ego natural e miúdo quisesse. Assumo a condição de coisa menor, para que nada de profano possa sair da ponta de meus dedos no teclado.

Não renuncio ao que sou e ao que penso, por dever de dignidade. Mas não vou aborrecer ninguém com comentários "elucidativos" sobre merda nenhuma, quando as ações e discursos já dizem tudo nas linhas e entrelinhas. Intérpretes qualificados, graças a Deus, ainda restarão em bom número. Vou para o fundo do teatro, jogar biriba com os amigos enquanto a intragável peça "política" não inaugurar um novo ato, que traga algo de realmente novo.

Que o cenário político de João Monlevade fique com Deus e com seus atores, espero eu que mais com o primeiro do que com os segundos, e que a população em geral sobreviva. Que a realidade sobreviva à fantasia, que a sensatez e a honra sobrevivam ao resto.

Considero que não é justo nem honrado fazer análise de cenário, se quero algum dia fazer parte dele, do meu jeito, com minhas convicções intactas. Sem que sejam convicções coisificadas e plastificadas pela artificialidade e pela calhordice geral.

Aos poucos homens de bem que conheço e admiro no meio do bolo, peço desculpas por não citar os nomes. Não tenho competência para analisar cenários e tardiamente reconheço isso. Tenho competência é para reconhecer amigos verdadeiros, pessoas de caráter, gente batalhadora e simples no meio desta multidão. Tenho competência é para ser ninguém. Serei, até quando for possível o merecimento de parecer ser alguém.

Mas não aceitarei, jamais, ser uma coisa qualquer.

Um comentário:

Marcos Martino disse...

Vixe...algo chato aconteceu, né?