sexta-feira, 23 de julho de 2010

A encruzilhada


Todo homem público que quer se ver homem político, passa por ela e titubeia. Os passos diminuem de amplitude, os braços caem ao longo do tronco, os olhos marejam por valor de arregalar e tentar alcançar o futuro, o coração dispara e a mente embota e entorpece todo o corpo. Ensombreia o espírito. Encolhe a alma.

Carisma ou simpatia? à direita, o dom psicológico de se comportar como que tocado pela Divina Graça, irradiando bons fluidos ao redor de si, mesmo que num primeiro olhar o semblante seja carrancudo, as palavras sejam poucas ou rudes, o maxilar esteja sempre enrijecido. Antipático, mas com carisma.

À esquerda, a simpatia. A arte de viver onde, às vezes, até a vida já decidiu morrer. A volúpia de estar bem e fazer com que as pessoas estejam bem, mesmo que as respostas sejam nãos. A solidariedade natural de quem se coloca sempre no mesmo barco, de quem entende a correnteza que aflige a alma dos que se preparam para naufragar. Mas juntos.

Esquerda e direita são utilizados apenas como componentes essenciais da encruzilhada, ou o texto não teria como ser desenvolvido. Importante é a encruzilhada e a direção a tomar.

Um homem público pode sobreviver com o carisma, mesmo que seja antipático. Não será admirado nem querido; entretanto, ninguém quererá vê-lo pelas costas, partindo para o nada de onde - comumente - veio.

Mas jamais será um homem político aquele que não for simpático. Os dons do espírito são elevados demais para a compreensão da maioria. Aquele carinho e solidariedade genuínos tem valor, junto ao povo simples que faz as engrenagens da vida girarem. O carisma tem só preço. Às vezes é caro demais.

Analisando com cuidado, fica mais fácil entender porque alguns homens públicos estão políticos, enquanto os homens políticos são públicos. Somente uma dessas categorias deixa saudades em um povo, e eu não preciso dizer qual.

Todos os dias, elas estão lá. Todos os dias pessoas fazem sua escolha individual e seguem por um dos caminhos. Às vezes, em raras oportunidades, o destino deixa que alguém refaça sua escolha, por ter escolhido errado o lado da estrada por onde seguir. Mas o tempo de retorno é muito longo e não é certeiro.

É por isso que o início da encruzilhada é tomado por tantos esqueletos.

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