sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Você tem experiência?

Tenho. Pode não ser a que se espera para uma atividade específica, mas todos nós sempre temos alguma experiência válida e útil. Eu sempre vejo com tristeza os anúncios de emprego que pedem experiência prévia. A razão é simples: se todo mundo exigir experiência anterior, não haverá mercado de trabalho que cuide dos nossos jovens que chegam ao mercado. os poucos que conseguirem chegar sem sustos, é claro.

Uma das coisas que salvou minha vida foi ter encontrado pessoas que me contrataram pelo que viram em mim, e não pelo que eu podia provar já ter feito. Hoje é tudo rápido demais, superficial demais, pasteurizado demais para que as pessoas tenham algum tempo de ser pessoas, apenas. Viramos instrumentos de precisão, atendendo a demandas de oportunidade.

Se eu pudesse de alguma forma, auxiliar a quem contrata, sugeriria uma coisa só: busque a experiência sim, mas entenda que ela possui muitas variações importantes. Se uma empresa procura um gênio, ela deve querer pagar por um gênio. Vejam onde o "gênio" de Sílvio santos o levou, e podemos entender melhor o que digo.

Cuidar de uma família estando desempregado requer uma paciência, uma força de vontade e uma criatividade enormes. Paciência é fundamental para não extrapolar limites. Força de vontade, para sempre entregar o melhor de si mesmo a seus patrões. criatividade é a mola que faz com que as pessoas aprendam além do que se espera delas. Estas virtudes não seriam suficientes para caracterizar um bom empregado?

Então, todas as vezes que alguém pede experiência a um brasileiro, está sendo redundante. Temos experiências ricas e importantes, todos nós. O mais honesto seria colocar nos anúncios: "a experiência que eu quero é a de saber tudo sobre a atividade, para eu não precisar transformar o candidato no trabalhador eficaz que eu preciso. Para acelerar o processo, porque minha empresa tem pressa. Os outros conhecimentos e habilidades eu não tenho interesse em adquirir."

E qual pessoa vai querer investir em si mesma, melhorando suas habilidades e saberes, conhecendo o mercado de trabalho como ele está, sem se interessar por estas habilidades e saberes? Cria-se um círculo vicioso que só tem por mérito aumentar a massa de desempregados no Brasil, a cada ano.

E eu, que sou ninguém, conheço um bocado de gente que faria bonito em qualquer trabalho que não exigisse conhecimento especializado e técnico. Até poder se formar em nível especializado e técnico, se qualquer empresa precisar desta especialização.

O assunto ultrapassa minha competência, claro. Mas alguém precisa começar mais este diálogo. É um caminho para que os brasileiros adquiram trabalho e dignidade com mais rapidez. Quanto aos candidatos, eu sugiro também um pouco de ousadia: procurem as vagas de qualquer jeito. Na entrevista inicial, quando forem perguntados "Você tem experiência?" basta responder:

Tenho. Tenho uma vida de experiências boas e ruins, vontade de repassar as boas e esquecer as ruins, necessidade de multiplicar as boas e de reduzir as ruins, capacidade de aprender mais experiências boas e de ignorar mais experiências ruins. Eu sou gente, e tenho muita experiência nisso. Se o trabalho que você tem precisa ser executado por gente, então eu sou muito qualificado para fazer o trabalho bem feito.

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