quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Eu roubo é cobre"


Assisti no final da noite de ontem a uma pequena matéria onde o cinegrafista mostrava o furto de fios de cobre em uma ponte de São Paulo. Ou viaduto, não me lembro bem. Um cidadão foi mostrado ao Brasil inteiro utilizando até uma picareta, para abrir buracos no concreto de modo a facilitar a retirada de fios de iluminação.

A cena me indignou, como sempre. Não vou perder a capacidade de me indignar até o dia em que estiver morto. Eu me recuso. E o maior motivo da minha indignação não foi somente o crime em si. Foi o fato de que um bando absurdo de pessoas passava ao largo, como se nada de anormal estivesse acontecendo.

Espera aí, gente! Estamos ficando mais loucos ou mais idiotas? A atividade criminosa não é só moralmente questionável. Ela é, também e por definição, socialmente tóxica. Uma sociedade que se envenena na aceitação do crime será, mais cedo ou mais tarde, uma sociedade criminosa. E tudo o que cidadãos dignos esperam para suas vidas é não serem vitimizados, seja pelos dementes que se contaminam ou pelos Estados que se acostumam ao crime, como se ele fosse inevitável como nossa respiração.

Ao final da "matéria", o ladrão guardou suas ferramentas de "trabalho" numa mochila, juntamente com o produto do furto. Afastou-se lentamente do local, sob os olhares bovinos de todos que ali passavam. cruzou o ponto em que o cinegrafista estava e dirigiu-se a ele: "Pode filmar. Eu roubo cobre. Não roubo pai de família não. Só cobre. Depois me manda os 20% (dos direitos) da imagem."

Ainda estou tentando entender. Acho que ele quis dizer que, ao roubar do patrimônio público, não estava tirando comida da boca de uma família vulnerável. A imbecilidade deste raciocínio não me surpreendeu tanto, já que todo ladrão é imbecil por natureza. Mas alguns reparos devem ser feitos, já que - por azar - algum ladrão monlevadense pode ter a brilhante ideia de raciocinar do mesmo modo.

Primeiro, a questão do roubo de segurança alheia. sem iluminação, todo espaço público vira uma armadilha onde inocentes poderão sofrer assaltos, latrocínios, estupros, agressões e em última instância, até perder a vida.

Depois, a pluralidade. Ao roubar patrimônio público, é óbvio que ele estava roubando de pobres. Ou o maníaco pensou que dinheiro público é de ricos, apenas? Pobres terão que pagar impostos do mesmo jeito, para que os reparos sejam feitos ali. Não roubou de um pobre, roubou de milhares...

A idiotice diminui o ser humano. A falta de vergonha na cara o condena a ser bicho, apenas mais um bípede irracional na esfera biológica do planeta Terra. O crime o faz insensato, insensível e monstro pelos resultados, ainda que sua ignorância não o tenha prevenido sobre eles no momento de agir.

O escárnio o torna perigoso, porque ainda contaminará outros tão idiotas quanto. E os há, aos milhões, no mundo inteiro.

Mas o que mais choca, na realidade, é assistir à passividade de tantos, enquanto um monstro age às claras e em meio à multidão. Talvez este tenha sido o maior dos crimes mostrados por aquela câmera de TV.

Um comentário:

Pedro Paulo disse...

Ola Célio,

É de indignar qualquer cidadão esta reportagem.

E hoje, ainda teve a da Procuradora de justiça, alcoolizada que atropelou uma doméstica.

Como dizia Cazuza, " Que país é este".

SDS

Pedro