quarta-feira, 23 de março de 2011

Coma Político

Em linguagem médica, significa a suspensão da vida. Em linguagem política, significa a mesma coisa. Do coma só evoluem duas alternativas excludentes entre si: 50% de chance de sobreviver ou 50% de chance de morrer. E tudo que significa maniqueísmo, ou Bem ou Mal, não é bom para ninguém.

A venda de áreas públicas pertencentes ao município é um coma político. Dela dependerá a sobrevivência de quem vai participar do processo, querendo ou não os atores políticos encarar este fato. E esta venda em particular significa uma aposta apenas arriscadíssima para a Administração Municipal, mas significa uma aposta mortífera para os legisladores municipais.

- A Prefeitura está retomando áreas de permissionários. Portanto está dando um sinal claro de que pretende fazer uso destas áreas. Ou que cuida do patrimônio público, o que é sua obrigação.

- A Prefeitura está em dificuldades financeiras graves. Não sou eu quem está afirmando, é ela própria, quando solicita transferência de dinheiro de uma Autarquia ( o DAE) para o Cofre Único do Município. A vida nos ensina que não se entrega dinheiro fácil ao gastador endividado. Ele irá dar ao dinheiro novo o mesmo destino que deu ao dinheiro velho.

- O mercado imobiliário está aquecido ao extremo. Poderia ser a hora de vender terrenos, se o município tivesse de onde recomprar depois. Como não existe esta possibilidade, já que nossa extensão territorial é pequena, o futuro reservará dificuldades de instalação de novos serviços essenciais. Ou se comprará caro terrenos mais tarde, ou se alugará. As duas alternativas geram perda monetária para quem já não está bem financeiramente.

- Uma cidade não é um especulador financeiro. Mesmo com o mercado imobiliário aquecido, isso diz respeito aos investidores mais do que ao Poder Público, já que este não deve gerar lucro. Deve gerar isonomia na distribuição de recursos previamente arrecadados entre os cidadãos.

Não vou enumerar outras circunstâncias perigosas, porque os atores políticos locais sabem delas. Vou emitir opinião é sobre os desdobramentos deste ato administrativo complexo, uma vez que ele será um divisor de águas na história da cidade. Para o Executivo e para o Legislativo.

No Executivo, estará consolidada a intransparente comunicação com a sociedade monlevadense. Afinal o mesmo afirma sua solidez financeira enquanto busca fazer dinheiro a qualquer custo, mesmo o alto custo político desta decisão de vender ativos pertencentes à coletividade. E o custo da instransparência é a eterna desconfiança.

Para o Legislativo, o custo será maior. No futuro, sempre poderá ser alegado que a correção da medida era tamanha que recebeu o referendo dos Vereadores. Em Administração, trata-se da famosa delegação de autoria, onde o mentor fica com o bônus e o autorizador com o ônus da decisão tomada. "Se der certo, parabéns prá mim. Se der errado, que vergonha prá vocês..."

Neste momento, em que o Legislativo está sob vigilância atenta por fatores que não é necessário pontuar, nada melhor que uma decisão equivocada, em um assunto deste porte, para que umas quatro ou cinco recandidaturas sejam transformadas em carvão e cinzas. 

Do lado de cá da cerca está uma multidão interessada em que estas vagas se abram. Menos competidores de peso tornam as ambições políticas externas muito mais simples de ser costuradas.

O coma político se instalou em João Monlevade. 50% de chance de vida, 50% de chance de morte. Em minha opinião, não seria boa hora para apostar nada muito alto. Mas eu não tenho nada a perder, ao contrário de todos os agentes políticos e dotados de cargo público, envolvidos nessa encruzilhada.

Boa sorte aos sobreviventes. Vão precisar muito dela.


P.S - Não se trata de análise de cenário nem de fim da quarentena autoimposta ao espaço. Trata-se de uma opinião pessoal sobre uma pauta explosiva desde que nasceu. Ainda bem que posso me dar ao luxo de priorizar o pessoal sobre o público, num momento em que os homens públicos deveriam estar fazendo o contrário.

(Postagem editada pelo autor do blog após sua publicação inicial. A última linha foi alterada.)

2 comentários:

Anônimo disse...

Célio, bom dia.
Excelente seu texto. Muito boa a abordagem sobre a venda de áreas públicas para fazer caixa.
Espero,sinceramente, que os vereadores de Monlevade não compactuaem com essa irresponsabilidade administrativa.

Um abraço.
Teotino

Marcos Martino disse...

O título da postagem até parece anúncio em terra de canibal. O problema será a indigestão depois.