segunda-feira, 18 de abril de 2011

Igrejas intransparentes

Quando os olhos se voltam para os homens, eu me volto para as realidades. Assim enxergo o que as pessoas não querem ver, ou pensam ser insignificante demais para ser visto. E a intransparência da Igreja, no episódio envolvendo o pároco (ou padre, ou mesmo não padre) Felipe em João Monlevade é deprimente.

É deprimente porque a Igreja abandonou todos os seus. No caso específico dos padres Marcos e Jorge, a Igreja os abandonou numa cidade que está desconfiando muito de um eventual "ciúme litúrgico" que os haveria afetado. Será que existe essa aberração na estrutura da Igreja? Não creio, mas...

No caso do próprio padre Felipe, o abandono ganha contornos de bota-fora, sem qualquer transparência de motivação. Apenas relatos de que "teria arrepiado os cabelos até do saci", com erro imperdoável e inesquecível. Caramba, é coisa demais. Nossos párocos, via de regra, possuem suas limitações e erros humanos bem escancarados e ninguém se incomoda muito com isso, contanto que a dimensão religiosa de suas atitudes cuide do rebanho.

A instransparência da Igreja é deprimente porque deixou várias comunidades de fiéis sem entender nada de nada. O padre Felipe foi apresentado formalmente e tomou posse de duas paróquias locais. Realizou e formalizou sacramentos. Vinha atraindo muitos fiéis. E assim, do nada...pufff! Sai o padre? Sem uma preparação cuidadosa para que os fiéis não se sentissem umas bestas quadradas, iludidos em suas aspirações mais justas?

A Igreja, cabe lembrar, é reincidente neste pecadilho. Só para lembrar um exemplo próximo: no ano passado, conhecedora de problemas que afetavam o padre Almir, deixou que sua intransparência culminasse na morte de inocentes, dentre os mesmos o próprio padre Almir (dependência química é doença também, não é só vontade de errar).

Eu sou uma ovelha - confesso - meio desgarrada dos pastores. Até bem pouco tempo atrás, eu ainda acreditava na máxima de que os bons pastores existem para as ovelhas desgarradas também. Agora, acreditar ou não está fazendo pouca diferença. Vejo que a Igreja está desgarrada de seus fiéis.

Ela está se lixando para seus pastores, do mesmo jeito. Prefere resguardar-se de expor suas feridas internas. Deveria, até para buscar o lenitivo adequado à sua própria saúde.

Não sei o motivo da saída do padre Felipe. Não sei se é padre. Não sei se houve ou não ciúme e dinheiros na motivação de sua retirada misteriosa. Só sei que nada sei... E que a minha Igreja não está nem aí para as dúvidas justas que se ergueram neste momento. Não é assim que eu a aprendi no passado.

Eu a aprendi como uma fonte de renovação da graça, com a qual somos todos ungidos ao nascer. E já não sei se é mesmo assim. Talvez eu devesse me lembrar de que a Igreja, afinal, é composta de homens. E estes podem abdicar da graça a qualquer hora que quiserem.

Deveriam é medir as consequências, antes.

Quis custodiet ipsos custodes?


Um comentário:

Raoni Ras disse...

Concordo plenamente com você Célio. Que respaldo tem a 'igreja' que se esconde atrás de boatos e explicações falhas para justificar uma atitude dessa grandeza?

'A pior das verdades vale mais que a melhor das mentiras'