quarta-feira, 18 de maio de 2011

Espaço político

Nada é tão confuso quanto entender, nem tão simples de avaliar. Há tempos o advogado Fernando Garcia alerta para um problema crônico e estrutural no modelo de governo adotado por Gustavo Prandini: a ausência de espaço político por onde aliados possam colocar seu nome em evidência.


Hipócritas dirão que espaço político é manobra antiga e um vício de nosso sistema. Afirmo que não é: caso contrário, o modelo representativo e geral adotado em quase todas as democracias do mundo simplesmente não existiria.


O agente político sabe compreender perfeitamente o quanto do espaço deve ser reservado aos protagonistas do momento. Mas ele compreende, muito mais agudamente, o quanto deste espaço deve ser dividido para que - no futuro - haja alguma chance de ocupá-lo. Todo ser político espera participar ativamente da tomada de decisões e da construção de projetos viáveis que busquem um bem coletivo.


Neste momento, o único agente político que está obtendo algum tipo de espaço é Djalma Bastos. Nem é por mérito próprio, mas por imposição de Alexandre Silveira, que foi quem avalizou a permanência de Gustavo Prandini no poder. Não estou afirmando que Djalma seja incapaz de criar o seu espaço político próprio. O que ele está fazendo é colher os frutos de uma aliança antiga, no que age corretamente. Trabalhou bem para seu mentor e está recebendo o justo pagamento.


Antes de criticar, peço a todos que reflitam sobre o que seja o pagamento em ambientação político-partidária. Ele não é canalha por si só, assim como não é canalha por si só o salário nominal que a grande maioria dos meus leitores busca ao final de mais um mês dedicado ao patrão. Nunca é o dinheiro em si, mas a mão que o empunha, que deve ser avaliada por seus méritos e deficiências.


O espaço político do Prefeito está mal preenchido. Sua assessoria de primeiro escalão, que deveria estar assumindo todos os ônus de gestão que agora conhecemos, tem relegado a ele o papel de inspetor de alunos: se houver bônus ninguém os apura, porque a população entrega todos os bônus e todas as responsabilidades a um nome só. Quando o nome a receber bônus está ocupando seu tempo defendendo-se dos ataques externos e lutando para minimizar as lambanças internas, só ficam para ele os ônus.


Não há espaço dialogado e negociado com o Poder Legislativo, igualmente. Prova maior é que já houve necessidade de uma manobra casuísta na legislatura passada, tentando obter uma maioria decisória apertada. Esta maioria já virou fumaça, e por uma razão simples: sem ter os nomes evidenciados por um bom trabalho em equipe, quais vereadores ficariam a mercê de ter o rosto vinculado a uma cúpula de governo hermética e despreparada para o jogo democrático real?


Dentro do Executivo o mesmo espaço é também negado a nomes de muita qualidade. E que seriam os aglutinadores de possíveis votos numa eleição que se avizinha e será duríssima para os pleiteantes ao cargo maior do Executivo. Como o Prefeito esperaria obter sucesso deixando de aglutinar possíveis votos é uma incógnita.


Em breve, o Legislativo inteiro irá acordar para uma realidade cruel: sem poder manifestar sua qualidade de trabalho de forma apropriada, por absoluta falta de espaço político para exercer seus papéis, vários vereadores serão varridos do ambiente político sem sequer entender direito como isso pôde acontecer.


Os meus interlocutores conhecem minha análise e previsão: Gustavo Prandini chutou o balde de suas chances eleitorais e deve estar costurando um acordo que lhe garanta espaço futuro neste ambiente. Por ironia, o mesmo espaço que sua pouca experiência em gestão de pessoas tem feito rarear e faltar para os seus agora poucos aliados de qualidade.


Ali por volta de Setembro, as costelas do Prefeito estarão sendo chutadas por praticamente todo mundo. Bater na figura dele angariará espaço político e votos de protesto entre a população monlevadense. E nenhum político experiente deixará passar esta oportunidade, porque seria aceitar a ruína de seus sonhos eleitorais futuros.


Oremos. João Monlevade vai precisar de muitas orações em breve...

2 comentários:

Paulo Roberto Reis disse...

Acho que é a primeira vez que vejo uma análise política tão bem feita em um blog.

CÉLIO LIMA disse...

Obrigado pelo comentário, Paulo. Espero ver em outros blogs um contraponto ao que estou afirmando, para depurar a minha análise. Um abraço.