terça-feira, 3 de maio de 2011

Sílvio "Zuiudo"

Há algum tempo, li em Blogs da terrinha alguns relatos sobre estes heróis anônimos de Monlevade, os marmiteiros da Belgo. Revirei os olhos de rir com as histórias e me lembrei de um anti-herói: o Sílvio "Zuiudo".

Sílvio era um negão (ops, o politicamente correto é afrodescendente) baixote e gorducho. Tinha maus bofes desde o primeiro momento em que se apresentou para as peladas da Rua Evangelista. Mas também era carismático quando queria. E usava o carisma com uma eficiência de dar inveja a qualquer um de nós.

O sacana era preguiçoso por natureza. Contrariamente aos outros meninos pobres da época, não engraxava sapatos nem capinava nem vendia picolés pelas ruas ensolaradas de João Monlevade. Era bem comum observá-lo, deitado debaixo da sombra de alguma árvore enquanto a gente ralava para juntar os trocados, sendo que só depois da ralação vinha o futebolzinho santo de cada dia. Na rua, é claro, porque clube nem passava pela nossa realidade.

A única atividade laborativa do Sílvio era a entrega de marmita. A gente nem imaginava porque ele se dava ao trabalho, até que as histórias começaram a se espalhar. E tudo por causa de um "Zuiudo" (ovo frito).

Os fatos: depois de meses de entrega de marmita, algum trabalhador da companhia ficou encucado com a falta de bife na marmita que chegou para ele. O dito cujo tinha comprado a carne na tarde da véspera, e chiou bastante em casa. Pode ter rolado até um enrosco com a patroa - quem vai saber? - por causa do ovão frito que foi junto com a comida.

Dessa briga em particular, a patroa bateu o pé que tinha enviado um bife de patinho, acebolado, que "era maior que a cara do ingrato" do marido reclamão. Ficaria tudo ok se o operário não tivesse desabafado com os colegas e descoberto que o fato acontecia com todos eles. Todas as mulheres de um determinado setor já tinham recebido uma carraspana dos maridos, em algum dia do mês. E tudo por causa de bifes e ovos fritos.

Uai, gente, mistério e bicho homem é coisa que não combina. Conversa daqui, bate um papo ali... E as marmitas eram todas carregadas pelo Sílvio. Só as dele davam diferença entre carne e ovo... Pimba!

Um moleque foi contratado para seguir o Sílvio durante uma semana inteira, no trajeto entre Carneirinhos e o  hoje Zebrão. E o relato varou a nossa infância como a maior picaretagem de que tomamos conhecimento!

Ele carregava umas oito marmitas todo dia. Fazia o trajeto a pé como todo mundo. Tudo nos conformes. Mas tinha uma diferença: ali no Belmonte - não vou falar onde para não entregar alguém sem querer - O "Zuiudo" parava numa cantina e trocava metade dos bifes nas marmitas por ovo frito!

Jesus... Numa única semana, uns doze bifes eram trocados por ovo, a cantina vendia doze bifes para seus clientes normais, Sílvio recebia "comissão" pelo serviço e ainda cobrava o dinheiro normal das famílias pelo transporte marmitento. Que empreendedor!

Por isso o desgraçado não precisava ralar com outras coisas. O rendimento dele com as marmitas era turbinado pelo tráfico de bife!

A casa caiu, Sílvio perdeu o serviço de marmiteiro, ganhou o apelido de " Sílvio Zuiudo" (e apelido entre moleques é coisa séria. Pegou, tá pegado!) e nunca mais foi visto deitado na sombra. Passou a ralar nos serviços que a gente já fazia também. Só que com o glorioso apelido de "Zuiudo" a tiracolo.

É... Monlevade já teve seus tempos de inocência, até na carreira criminosa. Hoje, o que é mais comum é a gente ver alguns "Zuiudos" por aí, lidando com artigos muito mais complexos que ovos e bifes.


Entendeu porque se chama "Zuiudo"?


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