domingo, 2 de outubro de 2011

O próximo líder

Vou parafrasear um lema que vi no Blog do Chico Franco: " A vida foi tornada curta pelas mãos de Deus para que não fosse tornada pequena pelas mãos dos homens".

Já não há qualquer barulho mais pela passagem de ônibus que aumentou 10%. Já não há qualquer barulho mais pela tarifa de água que ficou mais cara 8,35%. Já não nos lembramos mais que o IPTU está mais caro. Já não faz diferença se o DAE está com fluxo positivo de dinheiro e negativo de água potável, para muitos monlevadenses.

Então, estamos fazendo da vida do monlevadense uma coisa pequena. Alguns poucos, pelas ações devastadoras de má gestão e pouca competência humanitária. E muitos outros, pelas omissões devastadoras adotadas. As vítimas de um projeto político arruinado não moram no Mangabeiras, República, Aclimação ou hipercentro comercial.

Elas moram no Monte Sagrado, Promorar, Primeiro de Maio, Egito, Jacuí, São João, Cidade Nova e muitos outros lugares, em sua maioria. Se eu fosse um ser humano cretino e calhorda, iria dizer que conheço cada um destes bairros e conheço seus problemas.

Besteira. Só quem vive lá conhece estas realidades. Quem possui honra no espírito e brio na cara pode conhecer é a forma correta de diminuir os problemas da cidade. E essa forma correta passa pela decência no gasto público, investimento em estruturação localizada, presença constante nas ruas de cada um desses bairros (por a cara para bater é sinônimo de ter vergonha na cara), respeito e carinho pelos humildes e outras coisinhas bobas que estão se perdendo nas gerações modernas.

Quem nunca dormiu no balaio, quem nunca comeu mingau de fubá com folha de batata doce, quem nunca foi de chinelo remendado para a escola, quem nunca usou camisa de saco, quem nunca chorou de vergonha porque faltou açúcar ou café na lata, quem nunca esperou os vicentinos chegarem com o alívio das doações de gente de bem, não tem a menor ideia do que é sair do zero.

Começar uma caminhada de vida com uma boa casa, uma boa renda, uma boa saúde e bons serviços públicos era uma raridade. Ainda hoje não é algo comum de se ver. Mas hoje existe muita informação para que todos nós tenhamos a chance de entender porque isso acontece. E porque tem que parar de ser assim.

O próximo líder da cidade tem que ser um hábil administrador. Tem que cortar na carne, fundo, todo desperdício e todo excesso que João Monlevade comete contra seus cidadãos mais pobres. Tem que transferir avanço e dignidade para as áreas mais simples.

Tem que ter uma coragem e um espírito fortes para negar aos que já tem, um pouco mais. Mostrando o porquê: que os recursos estão indo para onde mais são necessários. Tem que fazer da sua vida pública um universo isolado da sua vida particular, da sua família, dos seus amigos e dos seus parentes distantes. Tem que esquecer suas vontades a atender às realidades dos que mais precisam de uma nova realidade de vida.

Tem que fazer o que não foi feito antes: eleger a transparência de ações como o maior programa de governo já visto na História de João Monlevade. Tem que consultar a cidade inteira, sempre que for usar recursos que pertencem à cidade inteira. Tem que evitar jogar fora recursos que gerariam mais dignidade (por exemplo, empresa privada recolhendo lixo ao custo de jogar no lixo 700 mil por ano) e muitas outras coisas.

Tem que administrar por puro mérito. Talvez fazer como muitos municípios, trabalhando com algum instituto de gerenciamento público por um ano ou mais, para mapear e auditar o que o município tem, o que o município pode fazer e o que ele precisa ter e fazer no curto, no médio e no longo prazos.

E tem que esquecer da mania de chamar de Governo o que é simples burocracia administrativa. A máquina sabe andar até sem Prefeito algum, como está provado. O que ela não pode fazer é ser guia de si mesma. O próximo líder não tem como sair de onde não saiu líder nenhum, até hoje. Depois deste tempo todo, só uma pessoa muito ingênua ainda acredita que não saiu um líder daí porque não teve a chance.

João Monlevade deu chances demais. E recebeu de menos, na esmagadora maioria das vezes.

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