sábado, 28 de março de 2009

O monopólio da Razão

Minha infância foi passada em um casebre de madeira, onde os cupins eram mais donos que nós mesmos, seis filhos de Maria, que lavava roupas e vendia salgados e fazia faxina e o que mais pudesse, para manter o que era a família dela.

Sempre houve o sistema de "equipe": quando meu pai morreu, a irmã mais velha estava com 17 anos. Nada mais natural que assumisse o papel de mãe também, realizando os serviços de casa até que arranjasse um trabalho. As tarefas diárias no casebre eram então divididas entre os outros filhos e assim sucessivamente.

Logo, nada mais natural que eu faça trabalhos caseiros com desenvoltura. Lavo, passo, cozinho e arrumo (não, não é propaganda para as possíveis esperançosas; Judith me mataria com ácido e fogo). Fez parte do meu aprendizado e faz parte do que sou, embora não precise mais lavar, passar, cozinhar e arrumar a menos que seja em caráter de colaboração com minha esposa e filhos.

Neste intervalo, minha mãe obrigou todos os filhos a estudar, buscar algum grau de aprimoramento. Quer fosse no campo intelectual ou no campo das firmezas de caráter, ela jamais desistiu de nós e da busca que nos propunha realizar. Acho que foi vitoriosa, mas sem a corroboração de terceiros, qualquer análise é precipitada.

Hoje, observo que este conceito de "equipe" está se tornando utópico. Vejo empresas tentando copiá-lo, sem sucesso. Vejo pessoas se juntando a projetos, sem conseguir implantar o conceito de "equipe" tal como o descrevi.

Eis o mistério do monopólio da Razão: utilizamos toda nossa capacidade intelectual para imaginar que, se somos brilhantes e a temos, ninguém mais a terá ao mesmo tempo. Ainda que nossos interlocutores estejam observando outro ângulo do mesmo objeto de nossos estudos - às vezes, um ângulo mais favorável que o nosso.

A Razão não é unidimensional. Possui muitas camadas e faces, que somente uma equipe unida pode desvendar por completo e em cada evento isolado. Uma mesma equipe pode encontrar razões diferentes para eventos iguais, ou para momentos distintos. Por isso equipes são melhores que homens sós. Erram menos, por imprevidência, por arrogância ou por excesso de vaidade intelectual.

Sem uma boa equipe, nenhum trabalho é bom o suficiente. Serve, no máximo, para retroalimentar um ego. Que na maioria das vezes já está com obesidade mórbida, de tanto alimento que recebe. E costuma morrer com as artérias entupidas.

A agenda oculta? Se você acha que tem o monopólio da razão, pode estar monopolizando a antítese dela. Cuidado, porque os coveiros não primam pelo culto à intelectualidade de seus clientes. Nem dão muita bola às reclamações dos mesmos.

P.S - Posso não estar com a razão ao postar aqui. Desafie todos os dogmas que você encontrar. Alguns se desfarão como névoa... Bem como seus mentores.

Um abraço!

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