quinta-feira, 2 de abril de 2009

381 Cap. 1 - Uma estrada velha demais

A 381 nasceu com propósitos grandes. O mais objetivo era interligar o Nordeste e o Sudeste de forma ágil. Se você observar o mapa do Brasil com cuidado, entenderá imediatamente o propósito da rodovia.

O site do DNIT não está permitindo consultas no momento. Se for algo pensado e permanente, é criminoso e imoral. É uma atitude velha, na acepção ruim da palavra (arcaico, medieval, atrasado).

Por isso, não há como precisar a idade real da rodovia em sua calha Norte (BH - Valadares), mas provavelmente é 1959 (mesma data de inauguração do trecho BH - São Paulo). Arriscarei dizer que ela tem 50 anos e, se alguém tiver dados concretos e quiser colaborar, agradeço muito.

Para uma estrada, 50 anos não é muito tempo. Se fosse uma obra de primeiro mundo, por exemplo, apenas ações corretivas de pequeno impacto poderiam mantê-la eficiente e segura por décadas a fio.

Mas a 381 é uma estrada brasileira, e os descalabros se iniciaram com sua construção. Seu traçado, por exemplo, foi "adaptado" ao terreno montanhoso das Minas Gerais. Houve redução significativa dos custos iniciais, sem perda acentuada de segurança.

Isso porque, na década de 50, raríssimos eram os automóveis com potência superior, porque tinham que ser importados e eram caros. Para a década de 60, vieram os Fuscas, Rural Willis, Simcas, Gordinis, DKW Vemag, Romi Isettas e outras pérolas.

Mas eram raros mesmo estes carrinhos de potência baixa e velocidade idem, o que tornava a engenharia da estrada facilmente contornável, no aspecto da segurança dinâmica (em que falamos da segurança para veículos em movimento).

Dessa forma, curvas sinuosas e de ângulo muito fechado foram vistas sem qualquer reserva, já que pouca velocidade com poucos veículos era o diapasão que mascarava a real vocação da rodovia.

A situação não mudou muito durante a década de 70, porque a crise internacional do petróleo cortou investimentos de base pelo mundo todo. No Brasil não foi diferente. Corrigir o traçado da rodovia não era prioritário, muito menos barato ou simples.

Os anos 80 foram conhecidos como "a década perdida" pelo mundo econômico. No Brasil, onde tudo de ruim copiamos e tudo de bom damos um jeito de menosprezar e ignorar, não foi de novo diferente. Adiou-se o pensar esta rodovia como o que ela representaria no futuro.

Quando o "futuro" chegou, na década de 90, houve uma reviravolta nos fatores que estavam afetos à estrada: só para exemplificar, o petróleo recuou em seus preços, os veículos ficaram muito mais possantes, Fernando Collor liberou a importação dos mesmos, etc..etc..

E a 381 continuou esquecida. Mas, por esta época, a saturação chegou. Incapaz de suportar o fluxo de veículos que aumentava a cada ano, ela começou a revelar traços ruins de seu caráter. Ela começou a matar em escala industrial.

Estamos no Brasil. Significa que as mortes em nada comoveram o coração de nossos homens públicos, via de regra cidadãos que não utilizam rodovias. Utilizam mordomias, como helicópteros e jatinhos. Não falo dos políticos municipais, notadamente mais próximos de nossa vidinha miserável. Falo dos que atuam em esferas mais "elevadas".

Assim, pouco ou nada mudou. Já se sabia do traçado impossível de suportar o tráfego, do rodo invertido nas curvas (rodo é o nome da inclinação angular, que provoca atrito lateral dos pneus com o asfalto; faz com que o veículo não seja jogado para fora das curvas, quando não está invertido). Pista simples? Ficava caro duplicar. Ainda é. Lembrando, estamos em 2009. os problemas começaram há cerca de 15 anos.

Resumo deste capítulo: a estrada é obsoleta, em todos os aspectos. No capítulo 2 trataremos das medidas saneadoras que deveriam ter sido tomadas aos primeiros sinais de alerta e, como estamos no Brasil, foram calhordamente ignoradas por quem tinha a obrigação de agir no momento certo.

Um abraço!

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