quinta-feira, 21 de maio de 2009

Persona

Levei um bocado de tempo para perceber que este é o maior senão de nossa imprensa: o vício de Persona, ou seja, tudo é muito pessoal.

Anteriormente, já se havia dado espaço a uma cidadã que clamava por Prozac em postos de saúde. Não comentarei mais nada.

Atualmente - e de modo inconcebível - tem-se dado extrema importância quanto ao episódio de falta de álcool para a vacinação dos idosos na cidade. É um assunto que já mereceu extrema unção, e só não a recebe pelo vício de Persona já elencado acima.

Não conhecendo a profissional que gerou toda a discussão, afirmo que a respeito em toda a sua dignidade pessoal, porque o merece. Quanto à sua conduta profissional, sugiro que reflitamos sobre o seguinte:

A Seção de Polícia Técnica em João Monlevade já custou ao bolso dos Peritos Criminais aqui lotados cerca de R$ 4.800,00 em três anos. Destes, cerca de R$ 4.300,00 estão devidamente comprovados por notas fiscais e faturas diversas (o restante refere-se a notas que infelizmente não pudemos obter).

A Polícia Técnica em João Monlevade, como qualquer outro órgão ou servidor público de qualquer esfera, serve ao povo. Reafirmar este óbvio nos atira à vala comum dos insensatos.

Faltou álcool? Quem serve ao povo, de coração, compraria uma garrafa ou pote ou seja lá o que fosse. Atenderia, o que é meta maior de qualquer servidor público. Depois, procuraria os meios para evitar que o fato ocorresse novamente. O último estágio seria solicitar o ressarcimento do gasto havido (R$ 10,00, talvez?).

Mas não. O vício de Persona leva a que tudo seja maximizado exponencialmente, a ponto de haver exploração midiática - e unilateral - dos fatos.

A unilateralidade, baseada não em fatos concretos, mas em especulações, causa engrandecimento do que é pequeno por natureza. Mesmo a minha sugestão da compra de álcool por parte da servidora é unilateral. É o que eu faria, e não vejo como deixar de dar-lhe razão porque ela não o fez.

A partir destes pequenos detalhes, temos que existem mecanismos corretos, legítimos e legais para que o episódio seja, definitivamente, colocado à conta da Persona que domina nossa imprensa em geral. Vejamos:

Se, e somente se, a Administração achar que a servidora pautou-se de forma incorreta, abra-se o devido espaço para a verificação da real verdade acontecida. Sem os holofotes da imprensa, porque há assuntos que dizem muito ao povo, e outros nem tanto. Eleger-se como vigilante deste mesmo povo é megalomania demais para meu gosto. Detalhe: já disse que acho correta a atitude da servidora. Incoerente, para quem se diz servir ao povo de forma exemplar. Mas correta do ponto de vista legal e formal.

Após, e somente após, comunicar os fatos se isso trouxer ganho real à população. Claro é que um dia de vacinação dos idosos é uma perda, mas não inviabiliza nem a vacinação futura, nem o respeito que os atendidos merecem.

Se a servidora, como percebi, não afrontou nenhum usuário do sistema de Saúde, houve dano irreparável ao povo? Médicos faltarão aos seus plantões, carros quebrarão ao executar serviços, a burocracia retardará licitações e contratos importantes, escolas ficarão momentaneamente sem professores.

Porque nenhuma administração é imune à falhas. Nem nossa imprensa, que anda procurando chifres em cabeça de cavalo. Procurando com afinco, tudo é possível de ser encontrado. Até chifres onde não deveriam estar pelas leis da natureza.

De novo, um desabafo: se faltar álcool de R$ 10,00 novamente, podem fazer contato comigo que o compro. Algo que poderia ter sido feito por qualquer "Profissional de Imprensa", também no momento apropriado.

Sem oba-oba, sem manchetismo. Ainda que o compromisso da mídia seja com a notícia, não com a verdade, um pouco de verossimilhança traduz-se em confiança do público razoavelmente capaz de intelecto.

Porque todos os envolvidos, sem exceção, comportaram-se como se estivessem numa rinha de galos. Com a desvantagem moral de que todos esperavam sair ilesos do processo, enquanto naquela atividade ilegal os galos se ferram realmente. Eticamente falando, os galos tem mais brio. O que não tem é a consciência malandra de quem participa como apostador ou espectador, só esperando um deles se arrebentar para sair-se com o murmúrio ou brado: "- Galo frouxo...Eu já sabia!"

Jornal "amigo" ou "inimigo", rádio "parceira" ou "adversária", blogueiro "do time de agora" e "do time de ontem", todos temos direito ao viés, que indica posicionamento. Mas nenhum tem o direito à cizânia com a realidade, que é soberana para acontecer alheia às nossas intervenções opinativas.

Chega de Festa do Álcool. Já deu. Foi. Agora, é esperar competência e engajamento de todos os profissionais, em todos os setores interessados, para que a cidade continue caminhando em frente.

Porque é hipocrisia esperar evolução quando tudo que se faz é trabalhar por algum retrocesso, qualquer um, só para marcar presença aos olhos da platéia. Aliás, perguntem à platéia se ela se considera apenas isso. Poderão se surpreender com a resposta.

Agenda oculta? Se estiver conectado à realidade, tanto o amigo quanto o adversário poderá ter razão. Se não estiver conectado à realidade terá apenas e eventualmente, sucesso. Como os palhaços em um picadeiro. Mas sucesso não é tudo, quando confrontado com a razão e a lucidez.

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