terça-feira, 7 de julho de 2009

Duas formas de fazer

Existem dois modos diferentes de lidar com a Saúde Pública no Brasil: contando com a cumplicidade da mídia ou com a cumplicidade da população.

Chegamos a este ponto porque somos utópicos. Colocamos no gesso constitucional os conceitos de universalidade, amplitude e qualidade. Não é disponibilizado, efetivamente, nenhum deles para a população brasileira. Mas estão na Lei, para mostrar ao mundo nossa qualidade como bons legisladores e péssimos executivos.

Oferecer atendimento à saúde, de forma universal, é complicado e quase impossível. Se for de qualidade, então, beiramos o precipício do inacreditável ao colocar este preceito em nossa Constituição. Imagine o custo de alocar todos os recursos necessários (físicos, humanos, tecnológicos e logísticos) em cada canto do país, para ter uma idéia.

Que fazem nossos políticos, então, diante deste dilema? Criam mecanismos de gestão da malandragem: ônibus para transferir o problema para outros municípios, unidades de atendimento de urgência que se transformam em ambulatórios eletivos, Postos de Saúde que reúnem amplas possibilidades de prescrição medicamentosa e nenhum trabalho de prevenção medicinal, e por aí vai.

O resultado é o título do post: a cumplicidade da população é obtida se toda essa "maquiagem" for percebida como investimento em Sáude Pública, quando não passa de investimento no Sistema de Saúde Pública. Nosso povo se ilude fácil, porque precisa da ilusão para acreditar que temos alternativa de futuro.

A outra cumplicidade é da mídia: todo sistema de Saúde Pública que funciona, no Brasil (e são raríssimos) não precisa dela para existir e está pouco se lixando para a mídia, porque ocupado com questões mais relevantes (manutenção da Saúde Pública, talvez?). E a esmagadora maioria dos que não funcionam vive duas realidades diferentes: funciona como pode, enquanto a mídia se encarrega de afirmar que implode porque quer.

Para o surgimento de políticos que criticam o sistema à cata de votos, sem apresentar qualquer projeto de resolução de problemas em contrapartida, é um prato cheio. Bater na Saúde Pública é fácil e produtivo, eleitoralmente falando. Corajosos são os políticos que aceitam as críticas - sempre pertinentes - e cobram sugestões e trabalho dos criticantes.

Mas espertos mesmo são os políticos que compram a mídia. É muito mais barato e soluciona qualquer problema de Saúde Pública, em qualquer cidade do Brasil.

Dá para comprar os criticantes, também. Mas aí fica muito caro. Geralmente eles possuem o caráter de um amendoim e o preço de um Boeing 787. Quando ocorre o contrário, não precisam ser comprados. Devem mais é ser incentivados a continuar trabalhando, porque aí todos ganhamos.

Nenhum comentário: