quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ditadura X Contra-cheque X Arroz com feijão

Brincar com as palavras pode ser perigoso. Mesmo os indivíduos afetos ao correto uso da dialética e da retórica devem se cercar de cuidados, para evitar desastres e interpretações equivocadas em relação ao que dizem.

Até porque, em relação ao discurso, ele informa muito além do que simplesmente diz.

Vejamos: o edil Telles de Assis, ao endossar um cartaz em que comparava a atual administração a uma ditadura, incorreu num deslize moral e ético tão solapante que sua diminuta carreira como vereador desapareceu, antes de começar.

Só consigo imaginar os horrores da Ditadura. Minha idade não credencia afirmar que a presenciei a pleno vapor. Mas imagino, pelos relatos verídicos que acompanho, que nada é mais monstruoso que reduzir o ser humano a um número, como se fora um anel de rastreamento de gado ou coisa análoga.

O edil porta-se como calhorda. Até pouco tempo, com o contra-cheque e o arroz com feijão pagos pela administração atual, não se ouvia dele o brado contra o despotismo, a vilania e a Ditadura que imperava no "Paço Municipal".

Hoje, já não é assim. As palavras saltam-lhe aos lábios, ainda que o sentido possa lhe saltar longe dos neurônios. Que se utilizasse do atual patamar de oposição para baixar o martelo sobre o governo municipal, tendo ali se alimentado com pachorra e diligência, e sem nada enxergar de errado anteriormente, quem poderia imaginar?

A edilidade fez-lhe bem aos olhos, curou-o de uma cegueira mortal que o afligia até bem pouco tempo atrás?

Telles, como muitos outros, é de uma ruindade atroz enquanto político. Não porque esteja junto a uma oposição tacanha e mesquinha - honrosas exceções a Sinval Dias e Guilherme Nasser, a meu ver - mas porque fala sobre o que não entende.

Sofre do mal milenar que a política permite: quanto mais ignorante, mais desenvoltura um ser político costuma aparentar. E é ingrato. Se fosse possível, sugeriria ao mesmo a devolução dos valores recebidos antes da vereança para que, assim, pudesse ter liberdade de dizer o que lhe desse na telha.

Ou que, paralelamente, tivesse honra para abdicar da crítica atroz, limitando-se a obstruir o que fosse possível, sem falar demais. Não geraria tanta estranheza.

Agindo como calhorda, o faz por opção pessoal. Eis um problema que não me diz respeito. Agindo como político de Quinta Divisão, o faz contra a minha expectativa de que a Câmara pudesse ter agregado valor com seu nome.

Não agregou, e isso é um problema meu enquanto cidadão. Não aceito que ele afirme representar minha vontade, não o faz em absoluto. Está formalmente e publicamente desautorizado a falar em meu nome, seja em que circunstância for.

Porque para realizar um trabalho muito melhor, e gratuito ao Município, eu colocaria lá o meu garoto de 10 anos. O número de besteiras ditas seria semelhante, mas sem qualquer migalha de calhordice permeando os eventuais discursos do meu garotinho.

Vereador, passe suas férias parlamentares (loooongas e pagas também com meu dinheiro) na Coréia do Norte, no Irã, em Cuba. Depois compare os governos e, serenamente, verifique se o senhor está mesmo trabalhando sob o jugo de um sistema ditatorial.

O problema da sua ignorância estará parcialmente resolvido. Já o da calhordice atual, só com muita ajuda espiritual e psicológica. Desejo-lhe sorte e sucesso nas empreitadas. Em ambas.

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