segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sou uma geladeira a querosene

Por força do que tem que acontecer, nem que seja pelo acaso, encontrei-me hoje pela manhã com o J. Conversamos muito rapidamente sobre a união de textos e mentes e ideias que pode se concretizar no futuro próximo, envolvendo o embrião do que seria o primeiro jornal virtual da cidade.

Para variar, conversar com ele é sempre instigante, e sempre muito proveitoso. Deste breve encontro, fui comparecer ao próximo compromisso da agenda do dia (era o terceiro já, e ainda eram 7h30), pensando em como é possível a alguém da minha geração e idade se multiplicar em tantos compromissos.

Exige o mundo moderno que tenhamos habilidades e competências múltiplas, bastante flexibilidade de aprendizagem e muita determinação e força, para dar conta de um dia inteiro de compromissos.

Ora, aos quarenta e tantos anos já não sou garoto. Meu trabalho, por exemplo, é fisicamente mais duro hoje do que era há dez anos. As habilidades computacionais e virtuais exigidas, muito mais complexas que há dez anos, e assim por diante.

Portanto, sou profissional de transição. Minha instituição está passando por uma fase de mudanças fortes e, quando estas mudanças estiverem consolidadas, eu estarei aposentado e fora da organização.

Ainda assim, observo com muito pesar que meu entusiasmo está maior do que os profissionais que vejo chegarem ao sistema. É um paradoxo, porque se criarão em uma cultura já modernizada de trabalho. Eles deveriam estar empolgados e produzindo muito.

A mim, sobraria o refrigério de produzir bem. Como uma geladeira a querosene, ultrapassada em tecnologia, mas ainda eficaz em produzir o frio. Só que a velocidades módicas e com muito barulho, uma vez que beirando a aposentadoria.

É lógico, então, que eu pense haver algo fundamentalmente errado com o mundo. As geladeiras novas - duplex, inox, frost free, baixo consumo, silêncio máximo, água na porta e painel digital com neon azul - em sua esmagadora maioria, andam produzindo menos frio e trabalhando em menor quantidade. O que aconteceu com meu universo?

J, por exemplo, é geladeira mais ou menos nova, mas produz bem e gela rápido, sem ruído de machucar os ouvidos. Tenho que considerá-lo como uma exceção à regra? Não gostria de fazer isso. Ele deveria ser um dos expoentes da regra.

Ser uma geladeira a querosene, num mundo tuitado e conectado, é ser uma quase aberração. Porque a barulheira, o cheiro ruim e a fumaça no teto chegam a esconder o princípio geral de funcionamento: produzir o frio para o trabalho de geladeira.

Não gostaria de afirmar algo sequer semelhante, mas algumas geladeiras por aí estão trabalhando muito para que, num futuro breve e triste, o consumo de querosene volte a aumentar nos postos e supermercados. Uma pena e um desastre. Porque gerações novas é que constroem mundos novos, ao invés de apenas adaptar as soluções velhas.

Agenda Oculta? Nós, movidos à querosene, não queremos ser extintos, com certeza. Mas nosso lugar é um destaque honroso nos museus, após o fim das transições fundamentais. Apenas para mostrar como fazer, e não para fazer todo o processo continuar funcionando no minimamente aceitável. Oxalá os jovens entendam esta imperiosa necessidade. Um mundo inteiro os aguarda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Agora de quem irão puxar o saco?
Este comentário vai direto a alguns pseudos-jornalistas de João Monlevade, acostumados sempre a puxar o saco daqueles que estão no poder. São uns dois ou três “jornaleiros”, como diria Wilson Vaccari.
Postado no blog do Leunam,ele senta no rabo para falar dos outros.
Monlevade ganhara muito com sua partida.Adeus.