Antes de mais nada, vamos nos concentrar a um detalhe fundamental: o caráter educativo-cultural que motivou a concessão é subjetivo. Assim, o palancão político-eleitoreiro pode se chamar de educativo e cultural o quanto quiser. Quem provará o contrário?
Vamos ao simples. Como os canais de comunicação comercial são distribuídos à apaniguados, desde que o Brasil é Brasil, sendo a farinha pouca e bocas demais à espera do pirão, o resultado é previsível.
Quanto aos canais não-comerciais, que deveriam fugir ao ramerrão sórdido do capitalismo - aquele, que diz que o competente se estabelece - estes ficaram reservados aos apaniguados de segunda classe. Deveriam ser concedidos à entidades profundamente enraizadas na tradição pedagógica, educacional e cultural, mas e daí? Isto aqui, ôô... É um pouquinho de Brasil, iaiá...
Então, Monlevade teve um canal de difusão radiofônica de caráter educativo/cultural concedido a qual entidade?
Universidade do Estado de Minas Gerais? ERROOOOUUU!!!
Universidade Federal de Ouro Preto? ERROOOOUUUU!!!
Fundação Comunitária Educacional e Cultural de João Monlevade - FUNCEC? ERROOOUUU!!!
Fundação Casa de Cultura de João Monlevade? PÉÉÉÉÉÉÉÉ... ERROU!
Isso mesmo... Nenhuma delas. And the radio goes to... Mauri & Moreira! Algo errado? Eles não tem o direito de pleitear?
Resposta: Tem, já que existe uma fundação que nunca fez absolutamente nada de cultural ou de educativo na região, mas está com a papelada em dia (oxalá) assumindo a paternidade do monstrinho fedorento... Ambos são reconhecidos, culturalmente e educacionalmente, como sumidades destas áreas.
Mauri é fogo na roupa! Para compensar que José Santana tem a "sua" rádio, ele adquiriu uma -AM - pra dizer que não é sua, mesmo todo mundo sabendo que é. Agora, toca a adquirir um lote na seara do FM também.
Nossa comunicação comercial está nas mãos de políticos. Falo da comunicação de massas, no país inteiro. Isto é tão inteligente quanto colocar Fernandinho Beira-Mar na guarda do depósito de pó da Polícia Federal. Mas isto aqui, ooô, é um pouquinho de Brasil, iaiá...
A comunicação educativa e cultural está indo para o mesmo destino. Certo, qual político raposa você conhece, que quer mesmo educar e evoluir o povão votador do brasilzão milagreiro?
Isso, isso, isso! Nenhuma alma penada nesta vertente.
Assim, amigo, a qual conclusão devo chegar, se um veículo de rádio educativo educa tanto quanto um gibi do Recruta Zero? Que toca música em 95 por cento do seu tempo de radiodifusão, como se esta fosse a única cultura possível? Que mistura a politicagem rasteira (bate boca, quiproquó, picuinha, quem for mais homem cospe aqui?) como sendo viés de educação ou de cultura?
Mais ainda. Que conseguiu, em dezenas de dias de funcionamento efetivo, não convidar um único educador, escritor, pintor, escultor, ator e autor de teatro, professor (nem que seja de Auto Escola, caras pálidas!) para difundir suas ideias e projetos localmente?
Hmmm, vejamos. Nada do princípio constitucional do contraditório. A Constituição Brasileira não deve ter nada de educativa, nem cultural. Nada do princípio do fluxo de ideias e pensamentos, já que a liberdade de expressão só vale para os amigos do peito.
Nada de conteúdos de cidadania, nem de orientações sobre como vasculhar a corrupção onde haja, nada de esclarecer sobre Direitos do Consumidor, do Idoso, da Criança e do Adolescente, nada de consultoria gratuita e irrestrita para a população entender o que é seu Direito e o que é absurdo requerer do Poder Público...
E muito patrocínio cultural!!! Empresários são incríveis, mesmo... Conseguem patrocinar a cultura onde só há um exemplo dela. Toca o ritmo dominante no lombo deles, Zé!!!
- Pode colocar Vivaldi, ou Rossini, ou Beethoven, ou MPB4, ou Rita Ribeiro, ou Geraldo Azevedo, ou Elis, ou Maria Bethânia, patrão?
- Tá maluco, Zé? A porta da rua é serventia da casa!
-Certo. Vai pagodeira, sertanejeira de butique, axezeira, calipisseira de esquina, bregueira de quintal e os escambaus...
- Isso, Zé! Agora tu tá me entendendo. Cultura também é povão. Só povão é cultura. Estas porcarias aí ninguém quer.
Claro, toca também a difundir, o tempo todo, o quanto o apresentador principal foi ótimo prefeito, quando teve seu tempo. Pelo menos de humorismo cuurtural e enducativo a rádio tá lotada, tenho que reconhecer. Vou pagar outro ingresso, estou me rachando de rir.
Agenda escancarada? O projeto todo tem o mesmo conteúdo cultural e educativo que uma lata de Pomarola. E mediocridade é como luxo. Apegou, fica quase impossível largar.
P.S - Sim, estou ouvindo a lata de Pomarola. Não, não é porque seja boa. É ruim de dar diarréia em elefante. É que alguém tem que fazer sacrifícios quando se propõe a ser uma alternativa à mediocridade. Esquenta não, comprei 200 rolos de papel higiênico. Vou sobreviver. O que mais irrita ao medíocre é o vigilante. Farei o sacrifício. Sim, é uma ameaça. Melhor, uma certeza.
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