terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Oposição é evolução

Certo, vamos caminhar com cuidado para não haver interpretações precipitadas.

Num ambiente humano idealizado, o conceito de oposição ideológica seria tão necessário quanto um apêndice inflamado. Caminharíamos por vias naturais, em busca de objetivos comuns, através de métodos eficientes de busca por resultados cada vez melhores, cada vez mais justos.

Neste caso, a alternância de poderes seria ditada pelo cansaço natural: quando alguém precisasse descansar, outro manteria o trabalho em andamento, sempre visando o bem comum e a evolução coletiva.

Mas vivemos num ambiente humano realizado (tendente à realidade que observamos em volta). Neste caso, o conflito de ideias e conceitos é que promoveu grandes avanços em direção ao que somos. Tudo indica que este mesmo conflito nos direcionará para o que seremos.

O que está causando preocupação genuína, pelo menos no meu caso, é a baixa qualidade do conflito. Vejamos:

Quando imaginamos a ciência e a arte sem o conflito de ideias novas, vem um arrepio de medo à nossa espinha, não é mesmo? Imagine a humanidade inteira acreditando na Terra como centro do Universo. Imagine que não tivésssemos questionado o Deus Ex Machina (wikipédia, vai lá...).

Ao próximo passo: o conflito de qualidade reside na proposição de novos caminhos, ou de soluções ainda não pensadas, ou no fornecimento de respostas novas e mais eficientes a problemas antigos. Estas atitudes ajudam a uma população escolher, de forma livre, qual caminho adotar em conjunto.

No decurso de minha vida, entretanto, em raríssimas oportunidades observei uma oposição que se tenha qualificado por estas características. Normalmente, uma oposição age como a água, que escoa sempre pelo caminho mais fácil que puder encontrar. Fazer esforço para quê?

Note-se que já encaminhei o raciocínio promovendo uma confusão de lógica. Este é um subterfúgio poderoso do meu inimigo marquetingue, então vamos traduzí-lo e eliminá-lo daqui: quando falo em qualidade da oposição, refiro-me à qualidade dos opositores. Oposição é sempre saudável e necessária. Opositores ruins é que nunca são.

É esta sinfonia que enlouquece. Opositores ruins promovem até mesmo o carnaval da vitimização sobre suas próprias cabeças, para se manter vivos e promovendo estragos onde puderem. Só.

É o caminho da água. Não é a toa que falta cor, sabor e odor a opositores ruins, ainda que a água (a oposição de qualidade) seja essencial - repito, e-s-s-e-n-c-i-a-l, à vida.

Exemplos para João Monlevade? Vários:

1 - Nosso Deputado estadual majoritário está, finalmente, patrocinando opositores em grande número e de forma muito porosa e fragmentada. Precisa fazer isso para não ver surgir oposição de qualidade em seu terreiro. Resumo da ópera: está fazendo o que seus comandados foram instruídos a questionar nos outros.

2 - A oposição atual tem a qualidade de um balde de aveia. Tanto é que defende, em seus vários canais de comunicação, seu direito de conflitar. Justo e necessário, se houvesse um único caminho de solução, evolução ou melhoria apontados no processo. Como não há...

3 - Democracia boa é a que funciona para mim. Perdi a conta dos contatos que tentei, para qualificar o debate, nesta João Monlevade que caminha, apesar de tudo. Resultado? Nenhuma brecha onde pudesse passar um pernilongo desnutrido. Mas a "oposição" quer espaços cada vez maiores. É a teoria do mundo hegemônico e da aclamação eterna.

EM MAIÚSCULAS, PARA SER LEMBRADO: ACONTECE EM QUALQUER LADO, EM QUALQUER PARTIDO, EM QUALQUER AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS. O QUE AFIRMO É QUE NÃO DEVERIA ACONTECER, MEDIOCRIDADE É RUIM EM QUALQUER DIREÇÃO.

4 - Para além da hegemonia de espaços, pior a falta de qualidade na demonstração de processos. Não se pesquisa, não se documenta, não se baseia uma crítica em fundamentos facilmente comprováveis. Não se abre a janela do contraponto, que é o primeiro passo para a evolução do município. Procura-se o quê? A evolução do grupo de amigos?

5 - Meia verdade é igual a meio pneu. Existe, mas não serve para nada. Este é um axioma que deve ser tomado como bússola, por todos os governos, por todas as oposições. Mentir sobre o meio pneu uma vida inteira, não vai fazer com que ele funcione como pneu inteiro. Nem com o esforço de uma vida. E este tipo de debate apequena todos que entrarem nele.

6 - Quando uma oposição se qualifica no debate, qualifica um bom governo nas ações. Ou demonstra que ele não é um bom governo, se não consegue acompanhar o ritmo. Mas quando qualquer oposição toma o caminho da água, o resultado é se esvair por um buraco imundo qualquer. Ninguém sente falta. E ainda fortalece o alvo. Pensem nisso, senhores atores do processo. Risco é parte da vida plena. Quem não concorda com ele, deveria ter ficado no útero. Lá não havia risco algum.

Para não ficar cansativo demais, o fecho é simples: nunca um só jornal, uma só televisão, um só noticiário. Preferencialmente, dois deles no mínimo. E qualificados. Dúvida o tempo inteiro, porque não existe mágica. Só mãos ágeis entre olhos preguiçosos. E escolha, porque não existe moeda de duas caras. E compromisso, porque não deveria existir ser humano de duas caras.

Se não temos o sistema ideal, façamos a escolha pelos homens de caráter que fazem o melhor que podem, no mundo real. Os que fazem o pior é que nos trouxeram até aqui. Convenhamos, é muito pouco pelo que pagamos, todos os dias.

Agenda Oculta? Quem se qualifica, tem lugar garantido. O contrário só forma os famosos flanelinhas: mesmo que por um tempo grande, só estão guardando as vagas.


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