domingo, 21 de março de 2010

Vida de professor


Ao longo de um casamento de 15 anos com uma professora da educação de base, formulei uma convicção muito pessoal, mas que pode ser considerada abrangente: o Brasil está amarrado a uma política de andar muito para chegar ao mesmo lugar.

Digo isso porque, é claro, convivo com muitos professores. Inclusive sou professor, mas não estou professor dentro de uma sala de aulas. Questão de sobrevivência...

O verdadeiro Professor (com P maiúsculo) está na lista das espécies em extinção. A eficiente política de esvaziar esta carreira, tão nobre, vai começar a produzir resultados em breve. A grande maioria dos Professores está por aposentar. E as novas gerações, em média, são compostas não por professores, mas por profissionais da Educação.

A diferença é grande. A carreira exige amor pela causa, e não só compromisso com o patronato e com o público cliente. Educação não é empreendedorismo. É função que, me perdoem os empresários, deveria ser exclusiva de Estado. Mas com qualidade, com eficiência, com investimento pesado, com qualificação e com amor à causa. Até por quem paga os salários e adquire novas tecnologias.

Se há empresários atuando na área, é apenas pela absoluta incapacidade do Estado em gerir o assunto de forma serena, sem oba-oba, sem falácias, sem razões mal enjambradas. E ainda bem que há empresários para suprir este crime de Estado. Caso contrário estaríamos com indicadores educacionais próximos aos do Zimbábwe...

Mas é péssimo para o Brasil que haja tanto espaço para os empresários na área. Nem vou entrar em detalhes de economia. O assunto é autoexplicativo.

A carreira de Professor foi relegada a uma função menor. Maravilha... Para o futuro, mais e mais dinheiro será gasto para suprir as deficiências do sistema, quando seria óbvio e mais inteligente resgatar a dignidade dos principais atores deste sistema: os professores.

Amor não se mede em salários. Todo mundo sabe disso. Mas é possível viver de amor, trabalhando em qualquer área. E é impossível viver de Educação, contando só com o amor. Um engenheiro bem remunerado é garantia de que as pontes continuarão ligando as margens dos rios. E ele não precisa ter amor a pontes ou rios.

Um Professor mal remunerado é garantia de que as pontes não ligarão o agora ao futuro. Porque isso requer amor para o sempre, mas autoestima para o cotidiano. E ninguém paga contas só com amor.

Nossos potenciais Mestres estão optando por outras carreiras, porque a Educação Pública paga mal. E assim, os potenciais e futuros engenheiros, médicos, advogados, economistas, administradores, técnicos, enfermeiros, jornalistas, policiais - enfim - todos os outros profissionais estão sendo pouco desenvolvidos. O futuro do Brasil, se continuarmos desprezando a Educação Pública de base, é ser eternamente mediano. E pobre, porque só a Educação multiplica riquezas. Inclusive as não financeiras.

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