quarta-feira, 12 de maio de 2010

Escapei de um atentado contra a minha vida


Esta é a manchete. Aqui é onde tantos se perdem por tão pouco. Vamos à informação, sabendo que é na manchete que reside o coração da notícia. É uma premissa desoladora: no sensacionalismo do que se lê de imediato é que reside a função da imprensa e da mídia. Ou seja, na ilusão é que reside o talento do ilusionista. O iludido que se lixe. O não iludido é o que lê e interpetra o que leu.

Ontem viajei à trabalho para Belo Horizonte. Só percorro a 381 à trabalho, há muito tempo perdi o prazer de trafegar pelo prazer de ver um filme, ou visitar a família, ou ir a um shopping ou uma exposição de arte, ou mesmo curtir um futebol no Mineirão.

A viagem de ida até que foi tranquila. Apenas três carros espalhados na vegetação marginal e ninguém ferido gravemente, graças a Deus. A volta tinha tudo para ser igualmente tranquila, mas estava chovendo e era noite. Aí, não há estatística ou santo que ajude.

Embora Deus tenha se desdobrado para me fazer viajar em segurança, com muito sucesso porque não me arrebentei em um acidente, a quantidade de motoristas que se empenhavam em sacanear com Deus e comigo foi de arrepiar.

Um episódio me marcou: após realizar uma curva fechada, num breu e numa falta de visibilidade de fazer medo, meu instinto me mandou para a contramão. Eu luto ferozmente para não invadir contramão direcional, mesmo por instinto. Mas na hora não deu tempo, as mãos já tinham virado o volante da viatura para a esquerda e quase não deu para eu ver o Volvo NL10, TODO APAGADO, que se arrastava pela pista de Belo horizonte para cá.

O caminhão era uma lástima só. Parecia que ia se desmanchar de tanta ferrugem e podridão na lataria, estava meio torto de tão pesado e não tinha mais que três daquelas faixas reflexivas visíveis por debaixo da sujeira. Era uma visão do deserto da inconsequencia.

Com certeza pertencia a alguém que se julgava no direito de infringir a Lei, o bom senso e o meu direito a viver por mais alguns anos, porque era "pobre". É este o país que estamos construindo? Eu devo morrer porque os "pobres" precisam ganhar o seu pão, ainda que ilegalmente?

Não vejo assim, até porque sou pobre e não vivo ilegalmente. Meus carros tem os impostos em dia. minha casa tem os impostos e taxas em dia. A Receita já levou meu quinhão deste ano. O ICMS, o ISS e o IPTU estão quitados (para o IPTU 2010 ainda espero o carnê, claro).

O que fazer? A ampliação da rodovia custa 2,2 bilhões de reais, o que pode parecer caro. Mas divido pelo número de pessoas que se arriscam por ela todos os anos dá algo como 400 reais por pessoa. Será que uma vida de cidadãos brasileiros fica muito cara, se considerarmos 400 reais como o valor médio?

É mais barato que um bezerro. É isso. Para nosso corpo político, somos todos apenas um bezerro a mais ou a menos nesta vida. E eles virão, todos, pedir meu voto no final do ano. Rezo para não estar armado na hora em que isso acontecer. Não sei se seria capaz de controlar a raiva e o ódio, resistindo à tentação de dar um tiro no rabo de um desses canalhas.

E vou continuar sendo obrigado a trafegar pelo Matadouro Federal 381. Porque sou pobre, burro, brasileiro. E não aprendo nunca!

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