quarta-feira, 12 de maio de 2010

A dengue de cada um


Tem gente da mídia de fora do governo, e umbilicalmente ligada ao jogo de esvaziar o governo para ocupar-lhe o lugar assim que for possível, fazendo chacota com a minha pouca inteligência. Tudo bem, como já disse no passado sou confessadamente louco por me cacifar perante os "grandes".

Em consulta aos boletins epidemiológicos sobre a doença, emitidos pela Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais em 2010 (e que estão à disposição para quase nenhum trabalho de pesquisa e para pouco trabalho de neurônios subsequente, se a situação pessoal de cada um e sua honradez de caráter o permitir), descobre-se o seguinte:

Boletim n.º 1 - 10/03/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Curvelo, com 369 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. O total de notificações destes vinte municípios chegava a 27.499 casos.

Boletim n.º 2 - 17/03/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Governador Valadares, com 500 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Nem Curvelo. Significa que algumas cidades tiveram um vetor de notificação mais veloz que o da cidade de Curvelo. O total de notificações destes vinte municípios chegava a 34.444 casos.

Boletim n.º 3- 24/03/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Moema, com 678 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Nem Governador Valadares. Significa que algumas cidades tiveram um vetor de notificação mais veloz que Governador Valadares. O total de notificações destes vinte municípios chegava a 42.840 casos.

Boletim n.º 4 - 31/03/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Ribeirão das Neves, com 871 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Nem moema. Significa que algumas cidades tiveram um vetor de notificação mais veloz que Moema. O total de notificações destes vinte municípios chegava a 78.247 casos, ou um aumento de quase 83% em relação à semana anterior. Uai, a imprensa mineira não falou nesta hora em fuzilar Aécio, nem em executar os vinte prefeitos mais inoperantes do Estado. Por que será?

De volta ao tamanho de letra normal, após a jogatina de marquetingue apropriada.

Boletim n.º 5 - 07/04/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Caratinga, com 642 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Curvelo, Valadaraes e Ribeirão das Neves já estavam lá no topo. O total de notificações destes vinte municípios chegava a 55.377 casos.

Boletim n.º 6 - 14/04/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era novamente Curvelo, com 1053 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Nem Valadares, que uma semana antes era uma das campeãs em notificação. Hmmm... Será que imprensa de Valadares mandou erguer uma estátua para o Prefeito herói Anti-dengue deles? O total de notificações destes vinte municípios chegava a 65.844 casos.

Boletim n.º 7 - 22/04/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Patos de Minas, com 1265 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Nem Valadares. Nem Ribeirão das Neves. Nem Caratinga. Upa, quantas estátuas e fuzilamentos estariam sendo patrocinados em Minas gerais? O total de notificações destes vinte municípios chegava a 73.023 casos.

Boletim n.º 8 - 29/04/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era Patos de Minas, com 1453 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Nem Valadares, nem Ribeirão das Neves, nem Caratinga, nem Moema. O total de notificações destes vinte municípios chegava a 81.883 casos.

Boletim n.º 9 - 06/05/2010 - Dos vinte municípios com maior número de notificações, o que menor índice possuía era novamente Curvelo, com 1773 casos notificados. João Monlevade não apareceu na lista. Valadares devia estar muito ocupada diante da estátua do Prefeito de lá. Mas Ribeirão das Neves voltou. Hmmmm. Coitado do Prefeito de Ribeirão!O total de notificações destes vinte municípios chegava a 90.134 casos.

Sabem o que quer dizer estes números, senhores? Nada. Isso mesmo, nada! Podem significar que algumas cidades, malandramente, subnotificaram os seus números. Neste caso, ficariam de fora do ranking mosquitífero e mortífero.

Podem significar que todo o estado de Minas Gerais está mal servido de Prefeitos e administrações municipais, e portanto o povo não sabe votar. Se formos politizar o mosquito da dengue, basta verificar as listas dos "vinte mais" e descobrir quantos são do Partido de que não gostamos. Pronto! Mais um míssil eleitoral a caminho. O problema é que o mosquito voltará todos os anos, e aí pode acertar algum parceiro ou aliado, não é? E, pior, se nos vinte mais houver gente "nossa", o que fazer? Dizer que culpa é da oposição, que traz o bicho embalado e solta na cidade?

Estes números podem significar que João Monlevade notificou com muito mais seriedade este ano que no ano passado, resultando num aumento considerável em percentuais de notificação de casos da doença. Trabalhar com números absolutos é fácil. Difícil é estabelecer conexões lógicas e racionais dos números com o universo que os cerca.

Esta é mais uma guerra de bolas de algodão, pra variar. Jornalistas e marqueteiros não precisam se preocupar nem com o meu convencimento, nem com o convencimento do "povo". O "povo" já é naturalmente convencível, e eu naturalmente cético com relação a seus nobilíssimos propósitos.

Uma das minhas vantagens é estar ligado pelo ideal. Não estou ligado pelo umbigo, tanto que critico aqui, na coluna do Jornal Bom Dia, em conversas de porta de bar e porta de gabinete, na câmara... E critico quando vejo fundamentos sólidos para a crítica.

Em respeito à dignidade que prevalece entre os iguais, procuro não lembrar que em João Monlevade prevalecem dois tipos de ligação política principal: o de umbigo e o de carteira. Desnecessário dizer qual dos dois eu considero mais nefasto para a cidade.

Em respeito aos seres humanos, não diferencio os locais de nascimento como pedigree político ou de caráter. Sou cético quanto à capacidade inata de João Monlevade só produzir maravilhas ou porcarias. Pessoas são iguais em seus direitos e deveres sob nossa Constituição. E pronto.

Trago comigo a firme convicção de que políticos, os daqui e os nem tanto, se armam com assessorias de baixa qualidade no cômputo geral, e por isso acabam reféns do processo de executar processos de gestão pública. Acontece, embora não devesse acontecer.

Trago comigo a firme convicção de que nada, repito, nada, vai apagar o momento triste e sofrido porque estão passando tantos monlevadenses com relação à doença da dengue, ressuscitada no Brasil inteiro por políticas públicas apodrecidas e vigentes há mais de quarenta anos no cenário nacional. Não se trata de culpa, quer da Prefeitura de João Monlevade, quer dos blogueiros de João Monlevade, quer de alguns jornalistas de João Monlevade, a epidemia da doença. Trata-se de causas e consequencias, e entre as causas estão parcelas iguais de responsabilidade do Poder Público e da população.

Aliás, como qualquer aluno do Ensino Fundamental sabe, a responsabilidade de todos nós, aqui em João Monlevade, só poderia ser estudada nos casos de endemia. O que não é, definitivamente, o caso da dengue.

Engraçado como não foi criada uma frente de jornalistas para provar a responsabilidade exclusiva do Poder Público, neste caso(entenda-se a Prefeitura, único Poder Público alvo preferencial). Ou há jornalistas omissos de mais, na cidade, ou jornalistas picaretas organizados demais, na cidade.

Porque no dia em que os jornalistas de João Monlevade realizarem a correta pesquisa, coleta, depuração, confrontação e tratamento dos dados, obtendo aí uma conclusão técnica e bem amparada, provando a responsabilidade exclusiva ou mesmo majoritária do Poder Executivo monlevadense na epidemia de dengue que assola o Estado, eu farei parte do pelotão de fuzilamento do Prefeito. Podem contar comigo!

Agora, corram lá para martelar mais no ouvido do "povo", senão ele pode ser conquistado por outras melodias "adversárias". Boa sorte na empreitada.

P.S - Já foram vitoriosos nesta. Não falo a "língua do povo" e não posso causar mal algum a seus propósitos. Deixo este ringue da dengue, derrotado e com muito orgulho de saber que estou do lado perdedor nesta parada infecto-marqueteira. Eu me odiaria se estivesse do lado vencedor.

Que falem sozinhos, porque vejo problemas reais a resolver, num governo que precisa de rumos a buscar, e portanto pode precisar de minha ajuda real. Se requisitar, porque os senhores não acreditam, mas não faço parte de projeto político-partidário no momento.

Que Deus ilumine seus propósitos e Lhes conceda o que necessitam.

Um comentário:

Manthis disse...

O problema da Subnotificação é crônico. Existem casos que já foram reportados de que pessoas portando doença de chagas no Norte de Minas eram notificados como Hipertensos, pois as cidades haviam recebido verbas específicas para combater a doença antes. Ou seja, em nome da "verba" e da "imagem", não se notifica corretamente a doença.
O que temos é um jogo escuso. Se é notificado, está inferior, ou omisso. E a culpa é de quem responde pela pasta, por quem abastece o sistema e por gente que pensa que o que é falado aqui não deve ser repercutido para esferas maiores. Ou seja, tudo errado. Não se é transparente nem com os pares, quanto mais com a cidade!
E é onde eu falo e bato sempre: se não é informado, é culpa de quem?