quarta-feira, 12 de maio de 2010

Seriado antigo


Em alguns aspectos, infelizmente, o governo atual tem se portado com uma ingenuidade extrema. Ou com uma visão política indecifrável e que só verterá seus frutos gloriosos, num tempo em que já não haverá suporte popular para fazer-lhe valer as medidas tomadas, pontualmente e agora.

Do ponto de vista meramente pontual, algumas ações não tem que ser explicadas. Acontecem no processo de depuração de visões políticas divergentes. Mas do ponto de vista estrutural, é bom alertar que o "momentum" é tudo em política eficiente. Não há hora certa para se fazer algo, mas é sempre positivo se fazer algo quando a hora certa chega.

O "Bulldozer" está operando. Se é a hora certa, deve ter o operador mais capacitado possível nos controles, porque esta terraplanagem pode não ser reversível no curto e no médio prazos. No longo prazo, em política tudo é reversível. Na ação política séria e decidida, também.

Acabo de saber que Djalma Bastos é o novo nome para Secretaria de Obras do município. Lembro-me bem dele na Câmara, no ano passado, brandindo um "Jornal da Gente" e dizendo cobras e lagartos sobre o desperdício de dinheiro público, o nosso dinheiro, naquele "pasquim" que a Prefeitura confeccionava.

Coisas da política. Djalma pode ter se apercebido de que fez uma análise prematura. Pode ter tido o seu nome negociado para compor o governo. Pode ter sido melhor avaliado agora do que o fora, em passado não muito distante.

Gestão política estratégica não é meu forte. Eu convidaria Conceição Winter para o governo, porque ela esteve longos anos empenhada em fazer parte de um governo que angariou aprovação popular. Isso eu faria no curto prazo, porque no longo prazo quem faz um governo é o povo.

As pessoas na rua, com quem tenho o prazer de conversar sempre, estão esperando apenas o Prefeito ir vê-las em suas casas, em seus bairros, em suas associações. Enfurnado no cotidiano burocrático de sua administração, com uma equipe estratégica reduzida demais para dar conta de todas as demandas e aplicando recursos escassos majoritariamente em resposta à mídia opositora, Gustavo Prandini está também acumulando uma rejeição popular muito superior à que seria considerada normal.

Porque o cargo gera rejeição normal para qualquer um, mas não nos níveis que estão sendo observados atualmente. E a estratégia de se fortalecer aglutinando as forças partidárias que lhe deram sustentação na campanha, ainda não se fez presente a ponto de ser perceptível ao público externo.

Se é para dar um tranco no motor do governo, que se dê. Se é agora que o tranco será aplicado, que seja. Mas que os estrategistas tenham em mente que será muito difícil dar outro tranco, até o final do mandato, com chances reais de fazer funcionar melhor a máquina.

Ainda temos que lembrar: o tranco só é aplicado ao motor que já morreu e que se recusa a pegar de novo. Esta informação subliminar não tem como ser disfarçada, sob pena de se cair no ridículo.
Sendo uma crítica pontual, não creio que fará diferença o sentimento de raiva genuína que poderá ocorrer contra mim. Eu sou desimportante, como não canso de repetir sempre.

E que venha a raiva! Espero que da raiva boa, aquela que faz arregaçar as mangas, repensar os passos e firmar um rumo visível, internamente ao governo e externamente ao governo. Aquela que força todas as partes ao diálogo, onde uns são confrontados com a realidade dos outros, onde os aliados reforçam sua aliança e os críticos reavaliam com justiça seus posicionamentos.

Como eu já previ há tempos, o único peixe que poderá sair frito deste governo é Gustavo Prandini. Os demais ficarão, quando muito, mal cozidos e com chance de se recuperar muito bem. Portanto, o único peixe com legitimidade para realizar manobras de sobrevivência é Gustavo Prandini.

Mas como esta sobrevivência se dará? As alianças que sobram são uma força menor comparada à força das alianças que formam um começo. Novas serão sempre necessárias, mas as regras mudam. As alianças de idealismo cedem espaço às alianças de oportunismo e... lá vamos nós oferecer um prato antigo com tempero que achamos novo. E a população brasileira já fareja com muita precisão estes movimentos políticos. Simplesmente não colam mais.

A próxima grande armadilha desta administração é o aporte de recursos do IPTU. Ele permitirá ao governo respirar e investir. Tenho o maior medo deste mundo de que seja para bancar a Cavalgada, festa estranha em que a Prefeitura entra com o risco, com o nosso dinheiro, e os empresários entram com o bolso a preencher. E a mídia "esperta" fará um lobby esperadíssimo neste sentido. Claro, até eu faria, se fosse para empurrar ladeira abaixo um governo que quero suceder, seja na competência ou na marra.

Popularidade não vem de populismo ou de ações populares somente. A popularidade real, a que fica e pode ser transferida em sucessão, é dada pela correta diagnose das necessidades de uma população e trabalho austero e pesado para atender a estas necessidades. Laura Carneiro, em Nova Era, que o diga. Pergunte aos novaerenses o que pensam do trabalho de sua Prefeita, visitem os órgãos públicos de lá, pensem no que ela fez com o dinheiro que havia, perguntem como fez. Ah, ela é do PSDB? E daí? Não há bons nomes e nomes ruins em todos os partidos do Brasil?

Solução local é solução adaptada à realidades próximas. Podemos buscar as soluções para João Monlevade ali em Araraquara, mas não vão funcionar aqui. São realidades diferentes demais. Podemos ir à Contagem ou Betim, mas as soluções e práticas não vão funcionar aqui. Realidades diferentes.

Paro por agora. Não tenho legitimidade para falar em nome "do povo" nem do governo. Mas a sensação de seriado antigo está forte no meu cérebro. Principalmente a imagem daquele seriado em que um anãozinho badalava um sino, gritando: - "o avião! o aviãããão!"... Depois o dito cujo (que era um hidroavião) desembarcava os passageiros e Ricardo Montalbán os saudava na marina: "Prezados hóspedes, eu sou Rourke, seu anfitrião. Bem vindos à Ilha da Fantasia!"


Um comentário:

Manthis disse...

Não sei se teremos um buldozer trabalhando. Eu acredito que é preciso ver que se tem que fazer mais com menos, e isto exige criatividade e acabar com o "mito" de que o dinheiro público jorra em fontes infindáveis. Até a água potável acaba.
Cortar custos? Até que ponto resolve? Cortar os custos onde se tem dados fica fácil, pois é possível mapear processos que são ineficazes. Melhorar a arrecadação com o IPTU não resolve todos os problemas, porque ainda não se tem a política de transparência clara sobre o correto destino dos recursos oriundos desta fonte. E as pessoas esquecem de cobrar transparência.
O problema do custo também é o problema político. Botar frentes de trabalho se deslocando a ritmo louco só para agradar a tal vereador é caro e ineficiente. Por que não incentivar as ruas com a adoção cidadã de cada trecho de rua? Se cada rua os moradores comprometessem a fazer coleta seletiva, manter os passeios limpos e capinados, desse um desconto no IPTU destes moradores, como forma de estimular a participação popular, não seria uma atitude cidadã premiaria a boa ação de cada um, mais ainda, criaria uma verdadeira rede de colaboração entre os vizinhos?
Voluntariado... esta palavra precisa ser resgatada e ampliada. O que é bom para todos, é melhor ainda para mim.
"Pitáculos...", meu caro, pitáculos!