quinta-feira, 10 de junho de 2010

Uma cidade de bundões

Isso. Simples. Patético e verdadeiro. Somos uma cidade de bundões históricos, com raríssimas exceções. Vejo, mais uma vez enternecido com tanta covardia e poltronice explícita, que vamos arrebitar o bundão para a ArcelorMittal no episódio da expansão da planta.

Áulicos já estão se preparando para o recebimento das fortunas que virão, para o paraíso muçulmano onde cada um de nós terá direito a sete virgens formosas, e blá blá blá... E tudo continuará como sempre foi, porque um bundão endinheirado não deixa de ser um bundão.

Quando o coração da cidade foi arrancado, e em seu lugar foram erguidos muros, ninguém perguntou nada. Tudo bem, era só um amontoado de casas velhas, mesmo! Quando o projeto arquitetônico sumiu, sumiu com ele a nossa História. Chegará vez da Fazenda Solar, talvez da Matriz de São José Operário, talvez da Areia Preta inteira? Como saber? Vamos reagir?

Com as popas arrebitadas para a companhia, pessoas de opinião importante estão dando um péssimo exemplo para as novas gerações. Nessa hora, está todo mundo cagando de medo de entrar numa lista negra, cuja simples existência decretará haver ou não emprego para parentes no novo empreendimento. Adianto-vos que não haverá.

Competência não pode ser resumida a quanto de covardia foi empregado no processo de enfrentar o leão que ruge. A competência obedece a critérios mais complexos, portanto os empregos serão ocupados por competentes, venham de onde vierem. Os poucos monlevadenses que serão empregados vão viver sob uma eterna suspeição: foi por mérito ou foi por poltronice?

Acorda, Monlevade... A usina já iniciou o mais hipócrita dos discursos. "Quando começar a jorrar leite e mel sobre as suas cabeças, usem o dinheirão para consertar o estrago que eu tiver causado, sim?"

A certeza de ter rabicós expostos à sua disposição é tanta que a empresa, sequer, cogita fazer investimentos agora para minimizar o impacto social de agora. Parabéns para toda Monlevade então, que vai engolir essa hiostorinha calada. Quando for necessário obter investimentos instantâneos e vultosos, para corrigir problemas no médio e no longo prazos, todos veremos como aquele "dinheirão" não fará tanta diferença assim. Servirá para correr atrás do prejuízo social, em detrimento do avanço econômico esperado.

Estou na torcida para que todos os lambe-bolas de plantão não sejam vítimas, ou não se tornem vítimas, do processo como um todo. Falta de alertas consistentes não terá sido a causa.

E quando algum de vocês, vassalinhos, virar refém numa esquina da nova Monlevade que se descortinará em breve (e falo baseado nas estatísticas e histórias reais, de cidades que afundaram em caos social, por aporte de peões) não amaldiçoe o Sistema Público de Segurança (nem o de Saúde, nem o de Infraestrutura). Lembre-se que, porque você se comportou como bundão agora, terá que continuar bundão - e vítima - no futuro.

Já começaram a gastar por conta? Boa sorte, pois eu vou é reforçar meus sistemas individuais de anteparo. Depois não vai haver milhões que dêem conta de amparar todo mundo por aqui. Azar dos que não tiverem um bom bilhete de passagem, né?

Bundões, uni-vos!!! Vamos ter outras "ondas de obras" inócuas e caras, vamos ter gestão idiota de recursos públicos, vamos comemorar nossa própria estupidez. E lá se terão ido outros longos anos de uma Monlevade que poderia ter sido, mas que fazemos uma força danada para não deixar acontecer.


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