domingo, 25 de julho de 2010

O filho pródigo


Biblicamente, não há o que questionar no fato de que o filho pródigo é filho e, portanto, achará a porta aberta todas as vezes que voltar à casa.

Meu maior problema é que vejo a Bíblia como um livro completo. Em algum lugar, lá estará escrito que:

- A César o que é de César, a Deus o que é de Deus

- Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último ceitil

- As más companhias corrompem os bons costumes

- Critica o tolo, e ele te odiará. Critica o sábio, e ele te considerará

Daí que, por piruetas de construção mental que só eu mesmo poderia arranjar, depreendo que o filho pródigo pode encontrar a porta aberta. Mas não a da minha casa, porque seria injusto com os que permaneceram firmes no companheirismo.

Para mim, o filho pródigo não se constrói em seu retorno. Ele se constrói - e mal - em sua partida.

Abandonar o barco nas horas difíceis, retornar ao barco nas águas calmas. É inadmissível que muitos tenham feito fama de bons marinheiros agindo desta forma. Um dia, inexoravelmente, os braços inertes destes aí vão fazer falta, e o barco afundará. Levando os bons marinheiros, porque os safados terão pulado nos botes salva-vidas, se ainda estiverem no navio.

Aos que são expulsos do barco e dispensados da tripulação, retornar a ela é direito pessoal. As desertores, aquela porta permanecer aberta é um insulto. Nada mais.

Nunca abandonei. Já fui expulso e convidado a sair muitas vezes, mas abandonar não. Só que também nunca aceitei retornos dos que abandonaram nesta vida, e nem suporto respirar o mesmo ar que os tais. Eu fecho portas com a mesma satisfação com que as abro.

Deixar a porta aberta para o filho pródigo só faz com que um dia a porta esteja fechada para o pai bondoso demais, porque existe injustiça na bondade mal distribuída.

Nenhum comentário: