domingo, 25 de julho de 2010

A flor de ontem

Não deixa de ser curioso o fato de que nossos olhos só funcionam para o instante exato. Os instantes futuros ficam para o cérebro, mesmo. Estive pensando muito nisto quando percebi que, se a realidade muda à nossa volta, temos que mudar com ela. É inegável este fato.

Mas a forma de mudar demanda uma sensibilidade enorme. Porque, do ponto de vista da lógica, como uma realidade que era tão satisfatória no Outono pode transformar-se em um pesadelo pessoal na Primavera?

Imaginei um paradoxo: o da flor de ontem. Vista pelos olhos de ontem, era uma maravilha. Pelos olhos de hoje, talvez seja uma maravilha. Pelos olhos de daqui a trinta dias, provavelmente será apenas matéria em decomposição.

O homem que consegue enxergar a flor de ontem, sempre, é feliz ou é apenas mais um iludido? Meus caminhos me levam a olhar aquela flor, sempre, com os melhores olhos que eu puder ter. Mas serão olhos do mesmo momento eu que eu a vir, sempre. Enfeiada e embrutalhada aquela flor, enfeiados e embrutecidos estarão meus olhos.

Sou muito tolo. Inventei um paradoxo em que não me encaixo... Paciência, sou assim mesmo. Tolo. Mas com olhos muito atentos.



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