segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As mãos do lapidário


Ser revelado ao mundo, após passar incontáveis anos sob o cobertor da terra que o viu se formar, pode ser uma redenção para o diamante.

O primeiro contato com o ar, com a luz, com o frio e com o calor é também o primeiro contato que fará pessoas se encantarem com a luz, o frio, o brilho e a esperança do que aquele diamante será neste mundo.

Os primeiros olhos o verão já com muito respeito, apesar de ainda estar bruto. As arestas e pontas irão ferir a sensibilidade dos olhos, mesmo que o garimpeiro saiba como nascem todos os diamantes: cheios de arestas e de projeções pontiagudas como se fossem espinhos.

Mas ser revelado ao mundo pode ser uma danação para o diamante. Potencial é apenas a capacidade de realizar grandes feitos. Após toda a epifania do nascimento, ele estará inteiramente entregue às mãos do lapidário.

Da mesma forma que uma criança ainda não educada, aquelas pontas e arestas precisarão ser aparadas. Todo o excesso de diamante precisa ser retirado, burilado, polido. Para que o diamante que sobrar cause sempre, e apenas, deslumbramento aos olhos que se colocarem sobre ele.

E, mesmo que esquecidas, as mãos do lapidário farão sempre parte do destino de cada diamante que deslumbra o mundo. Mas também farão parte do destino de cada diamante que se quebrar e se perder. Esta será a ironia da morte no começo, a amarga sensação de beleza não acontecida quando tinha tudo para ser.

E eis que todo diamante, belo como só ele, descobrirá que nada é tão valioso que não precise de uma limitação, de mãos de lapidário, porque nada nasce completo. Nem nós.

Precisamos, como os diamantes, perder muitas arestas e ganhar o brilho e o polimento necessários. Depois, e somente depois, é que ganhamos o adorno dos metais nobres e das mãos merecedoras de nos portar.

Mas sem as mãos do lapidário, não há beleza e valor que possam ser úteis para a humanidade.

Deve ser por isso que há tanta ironia suave nesta vida. Algumas pedras nascem muito grandes, mas só adquirem brilho após, lapidadas, ficarem muito pequenas e humildes. Outras nascem pequenas, mas com tão poucas intervenções necessárias que acabam por se tornar grandes valores em mãos igualmente nobres por natureza.

É uma realidade que todos caímos em deslumbramento pelos diamantes acontecidos. Mas deveríamos nos lembrar das mãos do lapidário, das mãos que os transportam, das mãos que os revelam aos lugares do mundo. Onde será importante haver pedras preciosas a ser admiradas, haverá sempre a gratidão obrigatória pelas mãos que transformaram todo o potencial latente em fortaleza de realidade acontecida.

O resto será sempre sonho. Ou de uma pedra que não foi educada pela lapidação habilidosa, ou de uma gema que perdeu tanto de sua substância original que dela sobrou apenas brilho, mas nenhuma identidade com a mãe terra que a gerou com tanto carinho.

De mim, torço apenas para que sempre haja mãos de lapidário à minha espera, todos os dias. O resto é o imponderável desta vida.

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