sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fraudes de R$ 93.057,88


Muita calma nessa hora, porque o tópico tem toneladas de chutometria. Como esta "ciência" é utilizada largamente em João Monlevade, sinto-me livre para utilizá-la desta vez com uma finalidade nobre: calcular quanto cada pessoa vale para os governos, quando ocorre um acidente na BR 381.

Utilizando como base, pretensamente, o ano de 2005 - Fonte: http://www.vias-seguras.com/publicacoes/acidentes_nas_rodovias_federais/minas_gerais , projetei a média de acidentes e mortes ocorridas no trecho entre Belo Horizonte e Gov. Valadares da seguinte forma:

145 mortos e 1646 feridos (sendo que alguns feridos graves devem ter morrido a caminho dos hospitais, ou mesmo dentro deles, ou ainda alguns dias após os acidentes) X 15 anos de tráfego pesado que a rodovia possui.

Um aparte: nos últimos 14 nos tenho acompanhado estas estatísticas, como profissional da Polícia Técnica, e sei que não estariam superestimadas. Pelo contrário...

O cálculo nos levaria aos impressionantes e vergonhosos 1646 mortos e 24690 feridos em 15 anos, ou 26865 pessoas afetadas brutalmente pela rodovia. Mas números piores virão na sequência.

R$ 2,5 bilhões é o que se espera gastar na duplicação/modernização do traçado da BR 381 entre BH e Valadares. Modernizar o traçado é imperativo para não se duplicar os problemas estruturais dela, como o Drops já informou antes. Então, cada pessoa mutilada pela BR 381 em 15 anos seria recompensada pelo Governo Federal com R$ 93.057,88.

Pode ser que alguém se arrisque a tecer algum comentário sobre o valor. Eu não, minha decência me impede de calcular quanto vale uma vida. Não acredito que haja um preço.

Concluo então que cada um destes eventos foi uma fraude. Contra a dignidade destas pessoas, contra a cidadania destas pessoas e, além, contra a humanidade destas pessoas. Ou seja, nos últimos 15 anos, a sociedade "ribeirinha" do trecho norte da BR 381 foi fraudada por 26865 vezes, a um custo unitário de R$ 93 mil por fraude, aproximado.

Na outra ponta, significa que, se tivessem sido investidos cerca de 200 milhões de reais por ano, a partir de 1995, em 2005 as obras teriam sido iniciadas e já teriam terminado. A que custo, nem o mais otimista pode mensurar, porque obras públicas tendem a ficar mais caras que as estimativas iniciais de valor. Mas nenhum custo seria grande demais para interromper o massacre de que estamos sendo vítimas.

Se tivermos começo efetivo de obras em 2011 - e eu não acredito nisso, infelizmente - pode ser que em 2015 a obra esteja finalizada. A se manter a média que foi apresentada aqui, morrerão mais 650 pessoas. Mais 8000 sairão feridas da estrada. Somaremos ao custo social total, então, mais 81 milhões de reais em vidas destroçadas. São números que causam revolta, nojo, vergonha, raiva e muitos outros sentimentos ruins.

Mas são faturas que ainda pagaremos, querendo ou não.

E olhem que 93 mil reais, por cabeça, é um valor inferior ao que muita gente paga por um cavalo, por aí. Valemos menos que alguns cavalos. Pode-se dizer que somos cavalos sem raça definida, daqueles mais baratos.

Bom, preciso pedir licença a vocês. Acho que está na hora de meu dono trocar as minhas ferraduras, que estão gastas. É baratinho...

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