Nossa cidade estará completando, em Janeiro que vem, dez anos de envenenamento. Serão dez anos de uma história estranha, e que não posso aprofundar sem ajuda porque passei os anos de 2001 a 2006 trabalhando fora e só acompanhando de forma periférica o que acontecia por aqui.
Serão dez anos de coma da oposição política por princípios e projetos, mas voltada para os mesmos resultados: o bem estar de quem detém o poder, que é o povo. Não admira que mesmo os mais preparados intelectualmente estejam hoje advogando a "farinhagem de um saco só", para classificar nossos homens públicos.
O pior é que, quando se conhece as pessoas atrás dos papéis, percebe-se que a grande maioria tem princípio e caráter, boa índole e vontade de acertar e ajudar. Particularmente não vejo todo o erro público como crime: sou vivido nesta área o suficiente para entender que todo crime, sim, é erro público. Diferenciar entre os dois é que foi sepultado nos últimos dez anos.
João Monlevade está caminhando para ser uma aberração no quesito da convivência social: agora grande parte da população já aceita como normal a máxima de governar sem conversar, posto que completaremos dez anos dessa insanidade.
Por isso, os poucos que ainda se lembram de frequentar as periferias, de falar com as pessoas, enfim de conversar com os monlevadenses, estão tão abismados e estarrecidos. Para a descrença, falta um último passo muito pequeno a ser dado.
Sobrevivência é questão de interpretar o próprio habitát que se ocupa, e entender que alguns ventos tardam. Mas quando chegam levam tudo em seu caminho. Fica este lembrete aos atores políticos de João Monlevade: não é reinvenção o que os senhores precisam, mas tão somente vontade firme de abrir os olhos e acreditar no diálogo em alto nível.
Em dez anos de envenenamento, as poucas lideranças jovens foram cooptadas a toque de caixa, retroalimentando um binômio de intolerância e raiva, porque este modelo foi apresentado como única alternativa possível para que houvesse governos. Todos sem diálogo, sem respeito à diferença, sem o princípio da igualidade consagrado em nossa Constituição.
Espero sinceramente que os mais novos emergentes na seara política, tenham a sobriedade de fugir a este paradigma viciado, porque maldoso em sua essência. Governar é conversar, muito e objetivamente, defendendo sistemas que podem ser opostos em sua estrutura mas que devem ser uníssonos em seu objetivo final: devolver ao povo ações concretas daquele poder "exercido em seu nome".
O resto nem me interessa muito. Eu não sou vítima direta destes dez anos de toxinas espalhadas ao vento, mas ainda tenho caráter e vergonha na cara para sentir que perdemos dez longos anos de desenvolvimento social, que seria redentor para muitos de nossos irmãos monlevadenses.
Um comentário:
Caro Célio,
Perfeito o texto. Não se vê mais pessoas interessadas no bem do povo, mas apenas interessadas no sucesso de seu grupo político. A individualidade tomou conta da maioria da população. Não se vê solidariedade, salvo quanto a aliados políticos. Não se vê bondade. Sou daqui, amo Monlevade, mas quem vem de fora percebe o quanto somos frios e egoístas. Infelizmente, parece uma característica do povo de Monlevade. isso não é exclusividade de Monlevade, temos como exemplo nossa vizinha Itabira, que parece ter um ambiente tão ruim ou pior. Mas deveríamos nos espelhar no melhor, e não nos conformamos em sermos menos ruins. É realmente uma vergonha para as pessoas de bem da nossa cidade.
Abraços!
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