terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A evolução técnica e a BR 381

Há pouco tempo atrás, os refrigeradores brasileiros precisavam de manutenção constante para que os congeladores não se entupissem de uma grossa camada de gelo - tóxico - sem função nenhuma, exceto a de necessitar ser retirada de tempos em tempos. Consumiam muita energia elétrica e possuíam como base refrigerante o gás CFC, extremamente prejudicial à camada de ozônio.

Os telefones celulares possuíam baterias enormes, ineficientes e caras.

Não havia reciclagem de materiais em grande escala. Tudo ia para o lixão comum, contribuindo para que o planeta agonizasse mais depressa.

A medicina não contava com inovações tecnológicas hoje simples, como o diagnóstico por imagem 3D, por exemplo.

Os automóveis possuíam carburador e distribuidor, consumiam muito, desenvolviam pouca potência e baixa eficiência de absorção de impactos.

A BR 381 era projetada para dez mil veículos/dia, algumas de suas curvas possuíam rodo invertido, sua pista era estreita e não continha áreas de escape. Seu traçado era sinuoso em excesso, e era povoada por caminhões de baixa capacidade de tração e reboque.

Hoje, apenas um destes elementos continua obsoleto. A rodovia. Tudo o mais, à possível exceção da mentalidade de nossos motoristas, evoluiu e passou por melhorias significativas.

A evolução técnica deve atender a um preceito econômico viável. Quanto melhor e menos caro um produto, uma parcela maior da humanidade pode se beneficiar dele. Mas ela deve também obedecer a outro parâmetro muito mais importante. Toda evolução tecnológica que não se presta a valorizar a vida é inútil em sua concepção básica.

E neste aspecto, entre inovar com desprezo pela vida e não inovar de forma alguma, ficou estagnada a rodovia federal BR 381. Cada uma de suas "maquiagens" inovou em tecnologia mínima, sem levar em conta o bem mais precioso que a estrada contém: as vidas das pessoas que a utilizam.

Olhar para o passado, sem o firme propósito de apenas não repetir os erros, é perda de tempo e de novas vidas. Praticamente todos os dias alguém se dilacera emocionalmente por perder um ente querido na rodovia. A urgência nem se justifica mais, estamos além dela. Mas somos vítimas e nossa urgência não é a mesma de quem possui o poder para mudar esta história. O que podemos fazer é, desta vez, não desmobilizar a rede de indignados.

Vem aí o Carnaval? Ótimo, façamos um na pista. Semana Santa? Beleza, fechamos a pista e encenamos a Paixão de Cristo nela. Independência? Do mesmo jeito. Não dá mais é para acreditar que a inovação técnica venha sem que seja pela maior pressão popular já exercida sobre o Estado brasileiro, em toda a sua história.

Porque esta população da margem vem sofrendo a maior pressão emocional da História brasileira, há algum tempo. A de começar uma viagem, com sérias dúvidas de se conseguir encerrá-la no destino desejado.

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