sexta-feira, 1 de julho de 2011

Coerência em atitudes

Há pouco tempo alguém me perguntou se eu tinha o e-mail do Prefeito Gustavo Prandini, e porque eu não o divulgava para que as pessoas pudessem cobrar dele diretamente.

Claro que essa pessoa não me conhecia e não me conhece. Nunca passaria pela minha cabeça achar que tenho o e-mail do Prefeito, porque nem sei se ele possui um e-mail institucional. Nunca passaria pela minha cabeça divulgar o e-mail que conheço, e que pertencia ao cidadão Gustavo Prandini. Não sei se pertence mais, porque há muito tempo não trocamos palavras.

O que as pessoas precisam aprender, em João Monlevade e no mundo inteiro, é que algumas coisas não se misturam mesmo. Jamais farei ou endossarei qualquer tipo de confusão entre o que é o exercício da prestação de serviço público e o que é exercício da liberdade e da privacidade a que todos nós temos direito.

Defenderei até morrer o direito de Gustavo Prandini possuir sua privacidade resguardada, porque ele não é um cidadão menor do que eu ou do que qualquer um de meus leitores eventuais. Assim como defenderei até morrer o meu direito de fustigar o homem público com todas as minhas possibilidades, porque este pacote estava implícito e sempre estará implícito no exercício de qualquer função pública.

Isso se chama coerência de princípios. Se agrada ou não aos meus leitores eventuais, não posso fazer nada para mudar este quadro. Se agrada ou não ao Prefeito Municipal, estou me lixando. Ele é meu empregado, e não o contrário.

Se agrada ou não ao cidadão Gustavo, não tenho como dizer. Ele não tem a menor necessidade de se justificar ou de me procurar para que eu me justifique, se não for da absoluta vontade dele. E ambos somos detentores de vontade privada e inviolável, no mundo da Democracia.

Somente a coerência produz respeito mútuo, para que cidadãos de bem possam coexistir. E dela, não importa quem me cobre declaradamente ou como anônimo, eu não vou abrir mão jamais.

Um comentário:

é o bicho! disse...

Célio, o seu texto me fez lembrar de uma experiência minha,há mais ou menos 7 anos, quando ainda era coordenador de uma escola pública. Apesar de o caso ser do âmbito das relações humanas serve também para todas as dimensoes de nossa vida, inclusive a trabalhista.
Veja:

O limite entre o público e o privado

O que importa apenas à intimidade pessoal e o que pode e/ou deve ser levado ao convívio social? E mais:o que,da privacidade dos pais, é interessante compartilhar com os filhos – e vice-versa - e o que seria mais adequado ser levado apenas às pessoas de mesma geração, como amigos ou companheira(o), por exemplo? Hoje, o limite entre vida privada e vida pública está tão confuso que fica complicado, porque não dizer difícil, responder sem pestanejar a essas questões. E é bom lembrar que a educação que damos a filhos e alunos é marcada por essas questões.
Quem nunca observou casais de jovens –novos até – em um relacionamento que caberia bem melhor em local privado por ser considerado íntimo? E, em geral, a reação que temos ao testemunhar esse tipo de cena é a de moralizar o comportamento dos jovens. É fácil dizer ou pensar nessa hora, que eles não sabem respeitar o publico, que não têm vergonha, etc.
Adulto adora moralizar o comportamento de jovens e nem sempre se dá conta de que o que eles fazem foi a eles ensinado por nós, de um jeito ou de outro. Por exemplo: qual a diferença entre assisti a uma cena mais ousada entre dois adolescentes que agem assim em pleno espaço público e ouvir, em situação semelhante, uma briga de casal que se desenrola pelo celular ou numa mesa de bar? Aliás, quem é que já não teve que compartilhar conversas íntimas em situações desse tipo? E o mais interessante é que o constrangimento fica mais por conta de quem ouve do que de quem vive a cena, não é verdade?
Bem, mas como tem sido bem difícil aos adultos construir e delimitar a privacidade, do mesmo modo tem sido difícil saber como e o que ensinar aos filhos a esse respeito.
Para ilustrar isso, darei um exemplo de uma mãe que me procurou juntamente com sua filha de 14 anos, que, ao ser interpelada pela mãe sobre um possível namoro “escandaloso” na rua, perguntou pra mãe se o que fizera seria diferente do que ela (mãe) e seu pai faziam também. A mãe disse que não, eles faziam coisas desse tipo e outras, só que essas cenas de intimidade eram compartilhadas no quarto do casal. Embora a intenção dessa mãe tenha sido boa, querendo dar uma lição de privacidade, passar para a filha a idéia de que há coisas que não se fazem na frente dos outros, já que interessam apenas aos envolvidos, é preciso lembrar que uma boa intenção nem sempre toma a forma de uma boa ação. O que a mãe conseguiu agindo como agiu foi expor a intimidade dela e do marido à filha, mesmo que com palavras. Ela não se deu conta - justamente pela confusão em q vivemos - que intimidade não se restringe ao que se vê,mas ao que se ouve também. Ela não se deu conta de que há um limite entre a vida do casal e a dos filhos que deve ser preservado,mesmo com custo.
Quando a interpelei lembrando que ela poderia te respondido à filha que esse assunto não era da conta dela, ela reagiu com veemência dizendo que não queria de modo algum, ser uma mãe autoritária.
E aí nos defrontamos com outra confusão típica de nossos dias. Afinal qual é a fronteira entre relações mais democráticas, considerando-se a tarefa educativa dos pais?
Ainda aproveitando o exemplo dado, podemos vislumbrar uma pista. Pais autoritários não permitiriam ao filho que se abordasse o assunto “sexo” com eles. Pais mais democráticos aceitam, sim, dialogar sobre o tema, mas numa abordagem sócio-cultural e não da intimidade da vida de cada um. E é bom lembrar que o inverso também tem acontecido; muitos pais extrapolam seu papel e sua tarefa educativa quando esmiúçam a vida íntima dos filhos. E nem adianta usar o argumento da necessidade de orientação: é perfeitamente possível orientar os filhos sem ter de saber detalhes da vida sexual ou amorosa deles.