Às vezes, nem notamos quando um anjo trabalha para a ocorrência de outro milagre bem na nossa presença. Pode ser que isso aconteça porque estamos acostumados a procurar o que achamos ser a falha, a inconsistência ou a pouca aptidão.
Pode ser porque nos esquecemos da média de sucesso e acertos, em universos semelhantes. E das exceções que são maravilhosas porque aconteceram.
Ontem eu descia a avenida Wilson Alvarenga (estava indo para a Delegacia do Baú) quando vi uma mulher jovem com uma criança no colo e uma garotinha de seus cinco, seis anos, na faixa de pedestres que fica próximo à loja Ricardo Eletro.
Nessa condição o motorista em Monlevade deve virar um artista: verificar rapidamente os retrovisores, tirar o pé do acelerador, acionar o freio, acenar com o braço para fora do carro avisando que vai parar. Fiz tudo isso porque havia um moto-táxi se aproximando pela traseira esquerda do meu carro.
Mas a menininha não quis (ou não soube) interpretar as ações e iniciou a travessia antes de eu parar meu carro completamente. Não tive dúvidas e cravei o pé no freio, para evitar até me aproximar mais e gerar um medo desnecessário na jovem senhora.
Todo mundo já imaginou o que aconteceu: o mototaxista mal teve tempo de desviar do meu retrovisor, mal conseguiu parar a moto... E a partir daí teve tempo suficiente para me xingar muito. Disse que ninguém deve parar o carro daquele jeito, que se ele caísse com o passageiro onde ficaria minha situação, etc...etc...etc...
A gente sabe quando uma situação de limites pode terminar mal. Com a adrenalina ainda correndo solta no sangue, soltei os cachorros. Argumentei que Monlevade está virando um inferno, que faixa de pedestres é sagrada, que o motorista só pode parar mesmo é o carro porque pessoas a gente não tem como controlar e que ele olhasse para a garotinha como se fosse sua filha. Isso aos gritos, é claro.
E então.... O milagre. Ele ia gritar de volta comigo, mas acabou levantando a viseira e agradecendo. "O senhor está certo, me desculpe, se todo mundo agisse assim até a nossa vida de motoqueiro ia ser mais fácil mesmo. Foi mal aí, bom dia e vai com Deus..."
Outro milagre: minha adrenalina foi a zero, pedi desculpas por ter gritado com ele, e pudemos arrancar porque a família já tinha terminado a travessia da faixa. Na hora nem pensei mais sobre o assunto, mas hoje acordei com a certeza de houve ali a presença de um anjo para nos ajudar a todos.
Estou começando a ter esperanças de que é possível adotar esta mentalidade de respeito e de carinho com a vida alheia no trânsito. Só não sei o que poderia ser feito para massificar essa esperança, porque demanda gasto de dinheiro para lançar campanhas permanentes de reeducação para o trânsito.
Vou ver se elaboro algum projeto técnico neste sentido, quando estiver de férias. Pretendo doá-lo à Prefeitura Municipal, se for aceito. Meu medo é que receba a mesma atenção que a ponte do Metalúrgico.
Vamos ver se consigo alimentar outras esperanças.
3 comentários:
Dejavu. Rapaz, a história é bonita e poética. Lembra uma propaganda da junta de conciliação, não sei se vc viu. As pessoas se encontram em situações limite, mas conseguem conter a explosão dos nervos e chegar a soluções de paz.
muito bonito o seu gesto. mas acho que se vc levar seu projeto pra entidades civis surtirá mais efeito.
Rapaz, é mais simples acreditar nos Anjos!
Em verdade, sempre são eles quem mais cuidam de nós nesse País.
Particularmente não consigo imaginar que haja solução eficaz para corredores de tráfego tão complexos quanto Getúlio Vargas e Wilson Alvarenga, bem como o quesito educação/respeito/cidadania.
Tão poucas são as exceções, que quase sempre dá nisso: Você prima por conduzir-se baseado nas leis do CTB; e, está errado!
Questionadas são as Autoridades, e a resposta é a de sempre: iniciaremos, tomaremos, analisaremos, providenciaremos...
Então: Fico com os Anjos!
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