sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Entre o Rio e o Jorge, distância nenhuma

O gosto pela desordem é o maior problema de governos de todas as estirpes. A explicação é humilhante e verdadeira: políticos tendem a não impor a ordem porque ela vai contra os princípios éticos da maioria da população. Como a maioria da população tem pavor e alergia à ordem, desagradá-la tornaria o processo eleitoral muito arriscado para qualquer candidato ou detentor de cargo público.

Mas é necessário refletir que toda sociedade precisa de limites, e alguém tem que impor limites. Quando isso não é feito por quem a obrigação de realizar essa tarefa, acaba sendo feito por quem não possui legitimidade para realizar essa tarefa.

Tenho dois exemplos emblemáticos e recentes para atestar minha teoria. O primeiro deles, o assassinato do Sr. Mário Contarino, ocorrido no início da semana no distrito do Jorge. O segundo deles, o desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro.

Pode não parecer, mas as causas estruturais destes dois acontecimentos nasceram no mesmo lugar. Nasceram da ignorância política, da preguiça de pensar e do desapego pela ordem. Quando a sociedade não sente qualquer obrigação de cumprir regras de conduta, tende a ser animalesca nos seus anseios e na sua ganância.

O quadro só piora quando a preguiça de pensar age em conjunto. Quem não reflete sobre o que deve ser feito e como deve ser feito, faz do jeito mais favorável à sua vontade individual. E quando a ignorância política faz com que o poder público nada fiscalize, nada oponha e a nada dê combate (mesmo quando legitimamente instituído para fazer tudo isso) o que temos é barbárie em ação.

O episódio do Jorge é reflexivo porque os autores do crime vinham sendo tolerados pelo sistema há muito tempo. A onda brasileira de agora é tolerar os pequenos crimes como se fossem traquinagens, para vê-los se transmutar em crimes mais graves como se fossem desobediência de criança. Finalmente, eles explodem no evento de crimes bárbaros.

Mas geralmente afetam um número pequeno de eleitores em relação à massa total, e a cultura da ordem e da obediência a regras mínimas de civilidade desagradaria e muitos eleitores. Não preciso dizer mais nada. Destroçar uma família parece um preço que a política brasileira adotou com gosto, por considerá-lo barato para pagar. E VAMOS FAZER UMA COPA DO MUNDO!

Deixar de fiscalizar, afrouxar o controle, fingir que está tudo bem para fazer cara de paspalho surpreendido quando ocorre uma tragédia, tudo isso contribuiu para a tragédia que ocorreu no centro do Rio de Janeiro. E O RIO VAI SEDIAR UMA OLÍMPIADA!

Este é o país que estamos construindo. É este futuro que guarda todos os filhos e netos de agora. E a população brasileira, educada para o atraso porque não recebe educação, a tudo assiste e de tudo é cúmplice, no que lhe atende à sua ganância individual. Até que vire vítima do sistema.

Eu não quero que João Monlevade trilhe o mesmo caminho vergonhoso. Só podemos cuidar do nosso quintal, infelizmente (porque o ideal seria uma ação globalizada pelo culto de respeito à vida em sociedade, com controle e ordenamento do que poe e do que não pode ser feito a bel prazer). Então temos a obrigação de cuidar muito bem dele e de cobrar um pouco mais de decência de todos os políticos.

Ou continuaremos sendo vítimas deles. Só alguém muito tolo não enxerga que havia muitos dedos do poder público, atuando na cumplicidade, para que estes dois absurdos acontecessem.

Mais tarde vou publicar dois eventos emblemáticos de desordem civil, fotografados em João Monlevade, que provam a linha de raciocínio exposta agora. Daqui a alguns anos, se nada for feito, colheremos os resultados amargos dessa opção equivocada pela desordem e pela falta de fiscalização.

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