sexta-feira, 3 de abril de 2009

381 Cap. 2 - Uma plástica cara demais?

A passagem dos anos foi cruel para a 381. E ela respondeu com crueldade dirigida a seus usuários. Um círculo vicioso se formou: a estrada não suportando o fluxo de veículos, o fluxo de veículos aumentando a cada dia, a estrada começando a ser ponto de partida. Não só das residências e locais de trabalho ou lazer, mas também deste mundo. E para muitos cidadãos.

A reforma da estrada foi discutida numerosas vezes, sem qualquer resultado prático. O governo federal (com minúsculas mesmo) acenou-nos com verbas do PAC (que devemos imaginar seja a sigla de PACóvio, definindo o que somos aos olhos de políticos espertinhos). Feita uma estimativa dos gastos para a plástica total, bateu-se na casa dos 2,2 bilhões de reais.

Muito menos que um PROER. Mas não somos bancos, então decidiu-se que não seríamos contemplados. Mesmo levando-se em conta o total de riquezas que a região produz em benefício do resto do país, quem somos nós para merecer esta bolada?

Graças ao PROER e à nossa incompetência econômica, estamos sofrendo menos que o resto do mundo frente à crise financeira. O que não significa sofrer pouco, antes o contrário disso. Então, o PROER foi liberado para "salvar" os bancos no momento em que foi lançado e para salvar, sem querer, a economia no futuro.

A 381 não será nosso PROER. Não se salvará nosso bolso no presente, nem nossas vidas no futuro. Ou as vidas de nossos filhos.

Duplicar o traçado original da rodovia dobrará o problema. É assumir o "melhor ter dois marimbondos na mão do que um voando". Operar as mudanças de traçado - o que seria mais humano - aumentará e muito o custo da obra (são túneis e viadutos que eliminariam as curvas problemáticas). Sou meio lerdo, mas imagino que não há dinheiro no mundo que pague uma vida. Mas não sou tão brilhante de raciocínio, como quem me governa.

Por isso, por estarmos no Brasil, a solução genial veio de uma cabeça que não é a minha: entregar o patrimônio público já consolidado a empresários que não gostam de risco. Poderão cobrar pedágios primeiro para duplicar corretamente (se Deus quiser) a rodovia depois.

Deixa ver se entendi: vamos pagar para morrer, a empresários que não correm riscos, e que utilizarão nosso dinheiro para duplicar a rodovia que já foi paga com o mesmo nosso dinheiro. No bojo da questão, pagaremos mais caro quando ela estiver duplicada, se for duplicada mesmo. Alguém tem Plasil aí? Não suporto a ânsia de vômito...

E isto tudo porque a região inteira e todos os seus cidadãos não valem 2,2 bilhões de reais. O jeito é todos nós virarmos bancos individuais falidos. Rapidinho aparecerá a grana para nos salvar e, com ela, nós mesmos duplicaremos a rodovia. È o único jeito de mudarmos esta história de sangue e dor.

Porque para o governo somos carne, apenas carne para ser mandada ao processador. Devo ser um cupim. Se você for algo mais nobre, como um coxão mole, pode me procurar. Protestaremos juntos. Ou viraremos hambúrguer na estrada.

O futuro chegará, inexoravelmente. Nele, ou estaremos mais pobres ou estaremos mortos, se o assunto for a rodovia BR 381. Que não pode ficar como está, porque mais cedo ou mais tarde alguém que nos é muito querido, pode virar número. Podemos correr este risco sem admitir que sequestraram nossa dignidade e cidadania?

No próximo capítulo, trataremos de retirar alguns mitos que rondam as estatísticas da Rodovia da Morte. Como tudo mais neste mundo, ela tem uma parcela de inocência que poucas pessoas tem a coragem de abordar.

Um abraço!

3 comentários:

Manthis disse...

Célio,
Você sabe quantas cidades mineiras usam a 381? Se souber, me fale. Eu vou fazer uma estatística de quanto se gastou com os atendimentos públicos a acidentados e vou levantar quanto as seguradoras pagaram em premios por acidentes nas cidades atendidas pela 381. Os dados demoram um pouco a serem levantados, mas é possível fazer, apenas para comparação em quanto se gasta com o atendimento hospitalar a acidentados. É mais uma vertente que pode chamar a atenção das autoridades.E garanto, o custo deve ser infinitamente maior do que seria gasto com a duplicação. Qualquer coisa, manda o link no comentário do seu blog ou do meu.
O caminho é tortuoso, mas a montanha tem que ser desbravada. Subimos com coragem por ela!

CÉLIO LIMA disse...

J, na Calha Norte são estas as mais relevantes: BH – Sabará - Ravena – Santa Luzia – Taquaraçu de Minas – Roças Novas – Caeté – Nova União - Bom Jesus do Amparo - Itabira – Barão de Cocais – São Gonçalo do Rio Abaixo – João Monlevade – B. V Minas – Nova Era – Antônio Dias – Jaguaraçu – Acesita – Cel. Fabriciano – Ipatinga – Naque – Periquito – Gov. Valadares. São cortadas ou estão muito próximas da rodovia. Excluí a Calha Sul - BH/SP porque já está duplicada (e pedagiada).

Este é o trecho que se discute agora como será modernizado, via privatização e duplicação.

Espero ter ajudado.

Manthis disse...

Ok.
Acho que vamos conseguir um valor aproximado, porque não existe no DATASUS a informação da localidade do evento. Mas podemos ter uma idéia aproximada de quanto se gasta com acidentes. Estou aguardando o retorno do DPVAT para verificar se eles tem os valores pagos pelo Seguro Obrigatório na 381, por localidade do sinistro.
Assim que tiver estes dados, posto isto no blog e compartilho com você.
Ah, meu e-mail e msn (se usar) é jhenriquesjr@yahoo.com.br e jose_henriques_junior@hotmail.com.
Abraços