domingo, 17 de maio de 2009

Eu e Fonseca, Fonseca e eu

O distrito de Alvinópolis é bonito de doer, com uma natureza linda em volta, longe de amargar, e não gosta de mim. E eu não gosto de visitar Fonseca.

Tudo porque só vou até lá de madrugada. E só por causa de crimes graves, no meu caso exclusivamente homicídios. Na madrugada deste Domingo, mais um. Por causa de 200 reais, 300 reais, sabe-se lá...

A guerra contra a criminalidade não terá fim, já afirmei aqui. Nossa natureza má, fruto de nossa dualidade, não morre sem morrermos com ela. Por isso tantos elogios em velórios - mors omnia solvit - a declarar quanto o que se foi era bom.

Quando se analisa calmamente o que somos, o que somos? Mantenho um blog na internet enquanto pessoas morrem na frente de seus compaheiros, seus filhos, seus pais. Não pode estar correto. Nós não podemos estar corretos.

Para auxílio ao meu caráter tenho largado o blog às moscas. Tudo porque minhas horas são quase integralmente ocupadas pela análise criminal. Tudo porque a Seção Técnica de Criminalística em João Monlevade não tem recursos mínimos para atender as cerca de 140000 pessoas que vivem na região. E olhe que atender, no caso do Perito Criminal, é a última coisa que os cidadãos esperam.

Assim, nada mais natural que me desanime de vez em quando. Natural também que me levante sempre com o mesmo vigor de 14 anos atrás, por força da lealdade para com os que me garantem o salário: todos.

Ainda vou passear em Fonseca durante o dia. Devemos nos conhecer mutuamente, em outra dimensão que não seja a da dor.

Um comentário:

Unknown disse...

Caro Célio,
sua postagem é mais uma reflexão que temos de fazer no dia-a-dia, pois, tempo é uma medida que não tem mais fim, é infinito. 24 horas já não são mais 24 horas. E assim por diante.
Em meu blog (bocão no púlpito) falo e retrato e até proponho a volta, e o exercício da Gentileza, gentileza urbana.
Somos formadores de opinião, e para mudarmos o mundo temos que mudarmos à nós mesmo, primeiro, e creio, que tanto você quanto eu já iniciamos.
Continue.
Vai valer a pena.
Abraços.