terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fabulazinha básica


Um cordeirinho muito fofo se aproxima do riacho, para matar a sede. Um lobo, que ali se encontra à espera de uma boa oportunidade, o interpela:

- Alto lá! Dessa água aqui tu só bebe depois que eu tiver matado minha sede, ô Zé Ruela!

- Pois não, senhor lobo. Eu espero minha vez. Sirva-se à sua vontade, por favor...

O lobo dá uma primeira bufada. Como, o capetinha não vai me dar um motivo pra cair dentro? Hora da segunda tentativa. Afinal, quem é louco de ficar ali bestando e com fome, sabe-se lá por quanto tempo? Depois de uns vinte minutos, hora de autorizar o pobre-diabo a beber um gole de água:

- Ok, Zé Mané. Pode dar um tapa na água, que agora eu deixo. Cuidado para não lambuzar a água que eu estou bebendo, certo? Não seria nada bom para sua saúde.

- Senhor lobo, não há como eu sujar a sua água de beber. Eu estou abaixo do senhor no riacho, e a água passa primeiro pelo senhor para depois chegar até minha boca.

O lobo dá uma segunda bufada. "Isto vai ser mais complicado do que precisa..." Rumina, enquanto solta entre dentes:

- Sabido, hein? Pois no ano passado você sujou a água que eu estava bebendo, aqui mesmo neste riacho. Tenho memória de elefante, quer dizer, de lobo!

- Não acho que tenha sido eu, senhor lobo. Nasci no comecinho deste ano, o senhor desculpe o atrevimento...

Terceira bufada. "mas esta peste tem argumento pra tudo, caricas!"

- Bem, se não foi você, foi seu irmão. Por isso, você vai pagar pelo erro dele. Está escrito, os justos pagam pelos pecadores...

- Senhor lobo, eu sou filho único, me desculpe.

O lobo solta um rugido de fúria:

- Que papo furado é este, criatura dos infernos? Se não foi você nem seu irmão, foi sua mãe. Ou seu pai. Ou sua tia. Ou qualquer um da sua espécie!!! Você paga, é assim que funciona. Vamos seguindo o script!

Dizendo isso, salta para as bandas do carneirinho. Este saca a semiautomática .40" de debaixo da pele de cordeiro e aponta bem no focinhão de lobo faminto que se aproxima, retrucando:

- Parceiro, é mais simples se a gente deixar esta conversa para outra hora, não? Tenho certeza de que tu tem coisa mais importante para fazer agora mesmo...

- Opa, você tem razão, meu filho. Lembrei que tenho consulta no oftalmo agorinha mesmo e se eu atrasar, só daqui a uns 60 dias consigo outra pelo SUS. Fui!!!

E desaparece entre as folhas, mais rápido que lobo assustado. "Outro dia, outra hora, quem sabe uma alcatéia... Cordeiro é cordeiro, ora bolas! Um dia ele vai ter que agir como um cordeiro que é."

E o carneirinho, satisfeito, começa a ruminar (ele também) se não seria interessante proibir o acesso dos lobos e seus lobinhos naquele pedaço de chão. Água é bem precioso...

Outro dia. Outra fábula vai começar. Mas a floresta permanecerá, sempre, soberana.

Agenda Oculta? Aceito dialogar com qualquer lobo, em qualquer ocasião, sobre qualquer assunto. A diferença talvez esteja no fato de que não me atrai a ideia de extinção dos lobos. Eles tem lá sua utilidade natural, num plano maior da existência, além da minha limitada compreensão.


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