quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Santo Daime e a Liberdade Escrava

Com a recente liberação do uso do SANTO DAIME renovaremos uma discussão que faz parte da Agenda Suja 21. Chamo de Agenda Suja em referência à Agenda 21, ousado pacote de projetos necessários e controversos, lançado para que tentemos coexistir pacificamente com o planeta.

A Agenda Suja 21 traz, em seu bojo, o combate à proliferação de drogas ilícitas entre as nações, com os devastadores efeitos que todos conhecemos sobre o nosso modo de viver. Liberar o uso de uma substância qualquer, alteradora de estados psíquicos, não torna a humanidade melhor ou pior por si só.

Discutir sobre os efeitos potencialmente nocivos de uma determinada substância, leva à mesma inutilidade que discutir sobre o sexo dos caramujos africanos. Toda substância química traz potencial lesivo, o que muda é sempre a dosagem e concentração.

A humanidade tem o poder de não se contentar até que corra risco de extinção. No século passado, o limite foi atingido com a tecnologia bélica nuclear. Hiroshima e Nagasaki pagaram um preço absurdo para que a humanidade entendesse: estávamos a ponto de nos aniquilar se não fosse colocado um freio em nossa estupidez. Uma hecatombe nuclear não deixaria muito para que nossa história fosse preservada de alguma forma.

A humanidade encontrou o meio termo. Não abriu mão da estupidez: o arsenal nuclear foi diminuído a níveis minimamente sensatos (se é que podemos chamar de sensato guardar algumas bombas nucleares, em caso de emergência), mas as armas convencionais de guerra e destruição permaneceram.

Neste século, nossa aniquilação responde pelo nome singelo de crack. Ao contrário do urânio enriquecido, que é extremamente caro (e ainda assim o método mais barato de se fabricar uma bomba nuclear), o crack é obtido por qualquer um capaz de plantar, colher e processar folhas de coca. E isto é, no mundo do empreendedorismo sujo, absurdamente barato.

Falo em aniquilação por base hipotética, claro. Se nada for feito de massivo e eficiente, a humanidade vai se acabar como usuária ou como vítima de usuários desta praga social. Em 14 anos de atividade policial, o maior medo que eu tinha quando iniciei um estágio probatório se concretizou agora: as Instituições estão "enxugando gelo" na tentativa de combater o crack. O modelo atual de combate é inútil e ineficaz. Todos que, infelizmente, tiveram contato com este universo sabem do que estou falando.

Sendo o crack a versão Século 21 do armamento nuclear que o precedeu, como algoz da humanidade, temo que a história se repetirá: somente após a destruição de um número massivo de vítimas, será tomada alguma atitude concreta para salvar os que restarem.

Não gostaria de ver a Hiroshima e a Nagasaki que sucumbirão sob o crack, se nada for feito. À parte o fato de que algumas Hiroshimas e algumas Nagasakis já pereceram, mas não de uma só vez e não delimitadas por geografia específica.

Antes, prefiro ver o Santo Daime como a arma convencional que poderá substituir o "Crack Nuclear". Claro que preferiria não ver nenhum dos dois compondo nossa sociedade, mas não sou cretino nem hipócrita. Sou usuário severo de nicotina e usuário leve de álcool. O fato de serem substâncias lícitas para uso não faz com que sejam benéficas para o ser humano.

O que me intriga e me irrita, profundamente, é sempre a cretinice e a hipocrisia de nossos "altos dirigentes". A liberação do Daime, em vez de acontecer por argumentos de lógica, acontece sob o pretexto canalha de proteger uma pretensa "liberdade religiosa".

Simples assim. Ou não? Porque a Constituição não pode prever tribunais de exceção. O que impedirá um cidadão, em pleno uso de seus direitos civis, de criar a "Igreja Angular da Luz na Pedra" para dizer que consome crack como fundamento de fé? O que nossos "altos dirigentes" farão, neste caso? Soltarão o crack no lombo do mundo?

Nem me atrevo a afirmar que esta é uma discussão válida. Ela teria que acontecer globalmente, às claras, com todos os poucos prós e muitos contras sendo massivamente discutidos pelo mundo inteiro.

Resumo desta ópera estranha: o Santo Daime inaugurará uma nova era, a da liberdade escrava, onde a grande discussão se aportará em um pilar único e destrutivo. Ou serão soltas no mundo todas as substâncias alucinógenas possíveis, ou serão proibidas todas as substâncias nocivas à saúde. Nos dois casos, não há saída possível, não há luz no fim do túnel.

Pessoalmente, prefiro ver o Daime solto ao Crack solto. Não porque eu use ou venha a ter vontade de usar algum dos dois. Limito-me aos químicos nocivos que já me limitam. É porque entre o fim de uma convicção e o fim da raça humana...

Agenda Oculta? São tantas que nem me atrevo a apontar uma principal. Mas vai uma alfinetada na nossa rádio "curtural e inducativa": esta pauta não interessaria como ponto de análise útil à sociedade monlevadense? Envolve aspectos fundamentais de educação para a saúde e formação cultural em seu bojo. Para falar o mínimo. Ficaria melhor do que só rechear a programação picareta com vinte minutos totais (no máximo), de algum conteúdo relativo à concessão do canal de rádio.

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