quinta-feira, 11 de março de 2010

Comentários e esperança - I

Recebi dois comentários sobre o tópico "Biblioteca, e de qualidade" que coloquei aqui no blog. Ronaldo Lage postou o seguinte:


"Cèlio, boa noite!
não sei se voce já conhece a biblioteca digital, no portal domínio público, (Gov.Federal), lá encontramos obra completa de Machado de Assis, poesias de Fernando Pessoa,obras de Joaquim Nabuco...etc.
vale a pena conferir e divulgar.

segue link:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp"

Tenho a dizer que conheço o acervo de domínio público sim, Ronaldo. É uma iniciativa que já conta com muitos anos de estrada na Internet e considero muito válida. O meu maior medo é que uma iniciativa boa - como esta - possa servir como uma pá de cal na esperança de que novos leitores se formem.

Porque as obras ali encontradas são, de alguma forma que não sei dizer sem parecer preconceituoso, complexas demais para o que me proponho: acostumar a grande maioria dos brasileiros à leitura.

Esta tarefa deveria começar com estilos de escrita menos densos, a meu ver. Porque nossa deficiência geral de leituras advém do fato de que não lemos, absolutamente. Talvez a melhor forma de mudar este quadro seria não assustar o leitor novato, aguçando-lhe o paladar literário aos poucos.

Há outros fatores envolvidos, claro. Sempre há. Um deles é uma paixão infantil que tenho pelo livro em papel, pela comunhão que ele pode produzir (eu leio, eu empresto, alguém lê, alguém empresta, as mãos lêem junto com os olhos)...

Acho que a leitura digital é muito isolada, para gerar a rede de "fofocas" que um bom livro precisa.

Não vou tentar esgotar o assunto aqui, seria cansativo. Vou tentar resumir, dizendo que minha batalha está mais voltada para a Biblioteca Pública em sua forma física, pelos benefícios agregados que ela traz. E agradeço muito a lembrança e a participação. Obrigado.

Vou voltar ao tema mais tarde, é uma iniciativa que quero tentar transformar em realidade. Nem que seja somente como ignitor.

Um comentário:

Pedro Paulo disse...

Memória
Os livros ficam
Aos 95 anos, morre José Mindlin, o empresário e intelectual paulistano
que se devotou a um empreendimento extraordinário: a formação
da maior e mais relevante biblioteca privada do país, com 45 000 volumes

Aos 13 anos, José Mindlin entrou num sebo de São Paulo e comprou seu primeiro livro: um exemplar do Discurso sobre a História Universal, volume datado de 1740 e escrito pelo bispo francês Jacob Bossuet. Aquele título seria a pedra inaugural de um empreendimento extraordinário. Ao longo dos mais de oitenta anos que ainda teria pela frente, Mindlin constituiu a maior e a mais relevante biblioteca privada do país. A coleção conta com 45 000 volumes. O bibliófilo, empresário e intelectual paulistano chegou a calcular quanto tempo precisaria para absorver todo o conhecimento contido neles: 300 anos. "Como não consegui encontrar a fórmula para viver tanto, resolvi me contentar com o tempo de que disponho – enquanto durar, eu vou aproveitando", declarou certa vez. Internado desde o mês passado em São Paulo em razão de uma pneumonia, Mindlin morreu na manhã do último domingo, aos 95 anos. Ele pode não ter tido tempo para dar conta da leitura de seus livros – mas realizou em vida seu maior sonho, que era garantir o acesso da posteridade a seus tesouros. Em 2006, depois de quinze anos de luta contra entraves burocráticos, Mindlin consumou a transferência da parte de seu acervo dedicada ao Brasil, com 25 000 volumes, para a Universidade de São Paulo. Costumava justificar sua generosidade com uma frase atribuída ao escocês Andrew Carnegie, o homem mais rico dos Estados Unidos no início do século XX: "Os homens passam, mas os livros ficam".