Nos iludimos imaginando que a vida é um iate de luxo, com design italiano e empurrado por dois turbodiesel Volvo Penta IPS500, controlados por computador porque ninguém quer trabalho pesado, né?
Né, não... A vida é escrita para um veleiro. É tão elegante quanto o iate, tão tecnológico quanto queira que seja o dono, tão sereno quanto o mar que se busca. Quando não há ventos de través.
Mas quando há ventos, o veleiro e o iate sofrem, da mesma forma. O iate leva uma vantagem enorme sobre o veleiro: a capacidade de enfrentar melhor os ventos. Mas o veleiro leva uma vantagem sem preço em relação ao iate: não acaba o combustível, nunca.
Nossos ventos de través são a dor e a angústia. A humanidade não se divide entre os que sofrem e os que não sofrem. Ela se divide entre os que sofrem lutando e os que sofrem amaldiçoando o destino. Lutar, neste caso, é aguardar novos ventos enquanto se enfrenta os revezes.
Amaldiçoar é perceber que o combustível acabou e que aqueles dois Volvo Penta lá atrás estão mortos, o iate à deriva.
Deveríamos almejar a vida de veleiro. Oscilante, imprecisa, mas firme e determinada. Velas latinas para aproveitar melhor todo vento que vier, até o de revés. E a certeza de que, sem vento algum, este mundo nunca irá ficar. Deveríamos nos impressionar menos com a vida de iate turbodiesel.
Porque sem combustível para estes motores, nosso mundo um dia irá ficar mesmo. Nessa hora, algumas lágrimas poderão ser inevitáveis, rolando pela nossa face abaixo, sob o vento.
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