sexta-feira, 10 de junho de 2011

Meninos e homens

Quando meninos, as variações financeiras diziam muito e pouco para nós mesmos. Diziam muito porque alguns iam à praia todo ano; outros não. Alguns ganhavam bicicletas no Natal; outros não. Alguns comiam presunto e maçã argentina; outros não. Alguns frequentavam o jardim de infância; outros não.

Quando homens, as diferenças financeiras dizem muito e pouco para nós mesmos. Dizem muito porque alguns se lembram de que foram à praia. Outros se lembram de que foram ao Rio Piracicaba e se divertiram muito também. 

Alguns ganharam bicicletas no Natal. Outros se lembram de ter rolado pneus de borracha com um arame entortado pelas ruas de Monlevade. E se divertiram à beça com o brinquedo rústico.

Alguns comeram presuntos e maçãs argentinas. Outros tiveram que se fartar de labrobô e de ameixas. Todos se alimentaram e sobreviveram muito bem.

Alguns foram ao jardim de infância e outros tiveram infância nos jardins. 

Sobre meninos e homens, tudo isso ainda é apenas parte do que se pode afirmar. Muitos meninos viraram homens, muitos homens jamais deixaram de ser meninos. Aquela diferença financeira ainda existe para muitos.

E, para poucos (felizmente) ficou o ranço de não compreender, não gostar, não conviver com meninos e homens pobres. Ter vergonha deles. Ter nojo deles.

Ainda bem que fui menino pobre. Não tenho saudade, nem ódio, nem nojo, nem vergonha daqueles tempos. Aprendi a conviver com homens ricos e nunca perdi a identificação com os homens pobres. Porque é só dinheiro. É vendaval, como dizia a música.

Imagino o inferno gelado que existe na alma de quem não gosta da pobreza, tem asco da pobreza, tem nojo da pobreza, imaginando que a falta de dinheiro é falta de calor humano. Não, não é. Para muitos, a prova maior é a época de campanhas eleitorais, onde quem tem toda aquela carga negativa de preconceito contra os pobres costuma receber deles a melhor acolhida possível em suas casas.

Onde se divide o melhor que a casa pode oferecer, ainda que em pouca quantidade. O carinho verdadeiro é sempre em grande quantidade.

Sobre meninos, nada a se pensar muito. Sobre os homens, o fato: alguns não aprenderam nada desde que foram meninos.

Nenhum comentário: